sábado, 30 de abril de 2011

Urubólogos do PIG só enrolam o leitor e não conseguem explicar a crise!

O Grande Debate
30-04-11

Reproduzo aqui o texto de Chico Barreira publicado no seu blog

Para entender a crise ou
quando os professores não sabem o que dizem

Os países do antigamente chamado Primeiro Mundo quebram em setembro de 2008 (a Grande Crise Americana) e não conseguiram se rereguer até agora. Na verdade, jamais voltarão ao fausto de seu apogeo. O curioso é que, endividados até o cavanhaque, eles não fazem a lição de casa. Ou seja, não fazem o que até recentemente mandavam os países do então chamado Terceiro Mundo fazerem.

Os números da crise veiculados na semana passada pelas agências intenacionais de notícias ilustram bem a situação e foram resumidos no artigo de Fernando Dantas de O Estado de S. Paulo. Vejam o principal techo deste artigo:

“Os mercados globais entraram em estado de choque com a notícia de que a famosa agência de rating (classificação de risco de crédito) Standard & Poor’s havia colocado a nota dos Estados Unidos em “perspectiva negativa”. A decisão da S&P não significa que os EUA já foram rebaixados, mas sim que existe uma chance em três de que isto venha a ocorrer em dois anos. Essa simples possibilidade, porém, já é suficiente para mexer com um dos mais importantes pilares do sistema financeiro global.

Desde que a agência iniciou a classificação do crédito do governo americano, há cerca de 70 anos, o rating sempre foi AAA, o máximo possível. Considerada como risco zero, ou pelo menos risco mínimo, a dívida americana sempre foi vista como o piso a A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial.

Esse endividamento pesa hoje sobre Estados Unidos, países da zona do euro, Reino Unido e Japão, justamente a parte mais rica do mundo, que por séculos foi o motor e a vanguarda da expansão da prosperidade humana. Em 2007, antes da crise econômica global, a dívida dos países ricos era de US$ 26 trilhões, e correspondia a 47% do PIB global.

Nesta semana, os mercados partir do qual o risco de todos os outros créditos é medido. Assim, a chance de que a qualidade de crédito dos EUA venha a deixar de ser o parâmetro para avaliar os demais riscos embaralha as perspectivas da economia global num momento que já é particularmente confuso.

O problema americano é que, com a crise global de 2008 e 2009 – e os grandes déficits públicos que foram usados como alavanca para relançar a economia -, a dívida pública explodiu.

Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.

Este ano, os EUA devem completar seu terceiro ano consecutivo com déficit público acima de 10% do PIB, o que colocou a dívida pública em trajetória explosiva. As autoridades econômicas americanas foram extremamente permissivas em termos de expansão fiscal e monetária depois da crise global, pelo medo de que qualquer tentativa de austeridade (que contém a demanda) jogasse o país num atoleiro deflacionário como o que o Japão experimenta desde o estouro da sua bolha no fim da década de 80″.

Os “pofessores” intrujões

Celso Ming, Mírian Leitão e Carlos Alberto Sardenberg (existem outros mas fiquemos apenas com estes) diarimente enrolam o público leitor com seu jeito professoral e empafioso, fazendo crer que estão explicando a crise.

Mas não explicam nada. Pela simples razão de que apenas tocam na superfície da crise. E fazem isso, porque não entendem absolutamente nada de economia, pela razão simples de que jamais estudaram as lições essenciais legadas pelos clássicos como Smith, Ricardo, Say e Marx que explicam a gênese da acumulação capitalista e suas crises cíclicas.

Há dias, publicamos, em outra coluna deste blog, um pequeno roteiro para quem, com honestidade e paciência, queira entender os mecanismos básicos da acumulação do Capital e, pois, de suas crises. Vamos repeti-lo aí baixo:

O Crepúsculo do Capital

Todos comentam a atual crise econômica mundial, mas poucos percebem que ela é, na verdade, uma crise do próprio modo de produção capitalista. Trata-se de um fenômeno sistêmico que aponta para crescente incapacidade de o Capital acumular o seu próprio excedente. É a fase crepuscular ou terminal. Entender isso não é muito complicado desde que se saiba, preliminarmente:

1-O Capital é, em si, um excedente. Excedente de trabalho (próprio ou alheio) que não é consumido e sim acumulado.

2-O Capital só obtém lucro efetivo na sua parte variável, dinheiro vivo reservado para pagamento de salários. É essa a parte do Capital que retorna ao bolso no proprietário, inflado pelas horas excedentes (não confundir com horas extras) de trabalho não pagas, a famosa mais-valia.

3-A parte fixa ou constante do Capital, máquinas e equipamentos (e insumos também) não fornece, a rigor, nenhum lucro ao capitalista. Isto, pela boa razão de que ela transfere o seu próprio valor para o valor da mercadoria que ajuda a produzir. No caso dos insumos (energia e matérias-primas) esta transferência é instantânea. No caso de máquinas a transferência pode levar anos. Mas, inexoravelmente, insumos, máquinas ou equipamentos se exaurem, cedo ou tarde, na produção das mercadorias. Entretanto, é aqui, na sua parte constante, que o Capital acumula.

4-A última frase do item anterior não é gratuita: o Capital só materializa e fixa os lucros obtidos com a rodada anterior de exploração do trabalho, quando investe em novas máquinas e em mais terrenos e edificações. É assim e só assim que ele realiza sua acumulação ou, mais propriamente, sua reprodução ampliada. Pois é assim que ele amplia sua capacidade de explorar mais trabalho a partir da mesma base inicial.

Agora reparem (e isto é estampado diariamente pela mídia) que o Capital está em permanente revolução interna, sempre substituindo sua parte variável (salários e mão de obra) pela parte constante (máquinas e equipamentos). É a automação vertiginosa que acomete o Sistema nesta sua fase terminal. Quando as máquinas e equipamentos perdem densidade de valor ou simplesmente tornam-se descartáveis (substituídas em prazos cada vez mais curtos), o Capital vai, concomitantemente, perdendo sua capacidade de acumulação.

Então, fica nítida a noção de que, principalmente nos países tecnologicamente mais adiantados, o Capital (entendido aqui como o conjunto de capitais – o Sistema), vai despregando-se daquela parte que dá lucro, bem como daquela onde ocorre a acumulação efetiva.

Quando isto ocorre, o Capital toma três rumos: a- deixa de ser produtivo e transforma-se em capital de serviços que dá lucro, mas não realiza a acumulação clássica que só ocorre (como foi exposto acima) no capital efetivamente produtivo, industrial ou agrícola; b- ingressa no cassino especulativo e passa a obter a maior parte de seus lucros não mais no chão da fábrica, mas no departamento financeiro e c- migra para a periferia do sistema, os países em desenvolvimento, onde ainda é possível obter altas taxas de mais-valia, em função da mão de obra barata. Neste último caso, China, Índia e Brasil são três excelentes exemplos.

Enfim, creio que aí está um pequeno, porém eficiente, roteiro para acompanhar a atual crise com melhor capacidade de percepção dos fenômenos que são subjacentes a ela e vão muito além das baboseiras repetidas à exaustão pela mídia pobre e podre.

Reparem, ainda, que o que foi dito aí em cima, não é simples literatura marxista dogmática e sim leitura correta dos antigos clássicos da economia como Adam Smith, David Ricardo e Jean-Baptiste Say, em cujos textos Marx colheu os fundamentos para desenvolver sua teorias sobre a acumulação capitalista. Um processo que chega agora à sua fase crepuscular.

O Neofeudalismo

A esta fase crepuscular eu dou o nome de Neofeudalismo, a etapa superior do Imperialismo.

O Neofeudalismo tem como principal característica a monopolização e/ou oligopolização extremas e a nível mundial. Some-se a isso, a terceirização da produção. As grandes corporações cedem a terceiros avassalados, sua marca, suas invenções e modos de produção e venda. Assim, passam (eis aí o aroma feudal) a auferir renda com algo que é de sua propriedade, sem se imiscuirem na produção propriamente dita.

Com isso, como já é visível a olho nu, há uma total revolução das relações do trabalho, somada ao crescente descarte de mão de obra, por conta da vertiginosa automação. Nasce aí o chamado desemprego estrutural.

E desemprego estrutural é um eufemismo, um nome técnico que se dá a algo brutal: a exclusão definitiva de populações inteiras ao redor do Mundo. Populações que se tornam excedentes e descartáveis enquanto elementos do processo produtivo.

O Impasse Ecológico

E ainda nem falamos no Impasse Ecológico que não só entrava, como inviabiliza o atual modo de produção e consumo, pelas seguintes três razões:

1- A acumulação capitalista só ocorre, como vimos acima, pela metabolização do homem (através de seu trabalho) com a Natureza. Mais precisamente, através de um excedente de trabalho, a mais valia. Este excedente é aquela parte sem a qual o trabalhador poderia sobreviver, mas sem a qual ele não consegue poupar e/ou acumular. E é certo que a este excedente de esforço humano corresponderá, obrigatoriamente, um excedente a ser fornecido pela Natureza, os recursos naturais.

2- Por esta razão o Sistema se utiliza daquilo que chamamos de consumo e produção redundantes, através da descartabilidade e da obsolescência prematura ou forçada.

Ou seja, mercadorias de todos os tipos, inclusive mecadorias produzidas para produzir outras mecadorias (insumos, máquinas e equipamentos) são elaboradas com todo o esmero pra serem descartados ou substituídas no mais curto espaço de tempo. O objetivo dessa pressa é o de dar lugar a outras mecadorias que já estão entrando na linha de produção.

É este carrossel diabólico que com seus giros intemináveis vai produzindo mercadorias apenas para produzir mais mercadorias, sem nenhuma conexão com as reais necessidades do homem em particular ou na Humanidade como um todo. E é isto que faz com que o Capital, enquanto sistema global, perca sua lógica ou sua racionalidade elementar, transformando-se em instrumento de destrição planetária.

domingo, 24 de abril de 2011

O engodo das sacolinhas feitas de milho

MILHO PARA GALINHA
Carlos Motta
extraído do blog Crônicas do Motta

A Associação Paulista dos Supermercados (Apas) e o governo do Estado chegaram a um acordo para acabar com as sacolas de plástico. Até o fim do ano, portanto, os filiados da Apas não empacotarão mais as compras dos fregueses nas sacolinhas. Em vez delas, venderão, por R$ 0,19 saquinhos feitos de um material biodegradável, à base de milho. O preço, dizem, é o de custo. A mudança, atestam seus idealizadores, é necessária em nome das boas práticas ecológicas: o plástico leva uma centena de anos para se decompor.
Tudo muito lindo, ótimo, maravilhoso... para os donos dos supermercados!
É que, com a iniciativa, eles vão aumentar os seus já gordos lucros, já que as sacolinhas de plástico eram fornecidas pelos supermercados e o custo delas, óbvio, estava embutido nos preços dos produtos vendidos. Sem essa despesa, eles passam a ganhar mais, pois vão vender as tais sacolas biodegradáveis.
Alguém se lembra do que aconteceu com o fim da CPMF, o imposto do cheque?
Os empresários diziam, no seu poderosíssimo lobby para acabar com o tributo, que ele encarecia a cadeia produtiva. Com o fim do imposto, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 20 bilhões, a Receita Federal e a Polícia Federal perderam um precioso instrumento para detectar sonegação fiscal, fraudes e outros crimes financeiros, e os empresários simplesmente embolsaram o que deixaram de pagar. Não diminuíram o preço de nenhum mísero produto!
Nesse caso das sacolinhas de plástico a lógica é a mesma. Sob o pretexto de uma boa ação, o que os donos dos supermercados fazem é, nada mais, nada menos, arranjar um meio de aumentar seus lucros, tirando um pouco mais do consumidor, que, para ir às compras numa cidade como São Paulo já tem de gastar muito com transporte, combustível, estacionamento, só para citar os itens principais.
Se estão tão preocupados com a preservação do ambiente, os supermercadistas deveriam voltar a usar os velhos e bons sacos de papel. Estariam assim agradando os fregueses e ajudando todo o setor de papel e papelão, em vez de dar uma grana preta a algum "amigo" que detém a tecnologia da fabricação dessa tal sacolinha de milho.
Isso, porém, seria pedir demais. O capitalismo, todos sabem, age sempre em favor de uma minoria.

sábado, 23 de abril de 2011

Como funciona o mercado financeiro

Apesar de um pouco antigo o vídeo abaixo ajuda a entender a "ingenuidade" dos financistas:

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A falácia sobre a necessidade de aumento dos juros. Mais didático impossível.

Segundo Delfim Neto, nosso jornalismo econômico não é uma coisa nem outra, leia mais.

O DESASTRE DA ALTA DA SELIC
Luis Nassif
publicado AQUI em 21-04-11

Os descaminhos da política monetária brasileira são fáceis de demonstrar.
A taxa Selic impacta dois clientes distintos. O primeiro, os demandantes de crédito em reais; o segundo, os investidores e captadores de ativos em dólares.
No mundo dos reais, o custo do crédito oscila entre 40% a 200% ao ano; no mundo dos dólares, a 5%, 8% ao ano. Nas aplicações, o mundo do real remunera a 8 a 15% ao ano; o dos dólares a 2%.
Essa é a causa da disfunção da política monetária brasileira, quando as taxas chegaram a patamares malucos de dois dígitos. Qualquer mexida na Selic tem efeito ínfimo sobre o crédito e a demanda interna; e efeitos avassaladores sobre o fluxo de dólares.
Suponha um bem de R$ 1.000,00, financiado por 24 meses a taxas de 4% ao mês. O valor da prestação será de R$ 65,59 mensais. Com mais 0,25% de custo de captação, esse valor subirá para R$ 65,73 mensais. Desestimulará algum financiamento? É evidente que não.
Na outra ponta, 0,25% - mesmo em cima de uma maluquice de 12% ao ano – é um estímulo a mais para a entrada de dólares. Não apenas isso. Mesmo sendo menos do que o mercado fingiu que seria, é sinal de que o Banco Central não pretende deter a apreciação do real. É gasolina na fogueira da especulação com o real.
Esta semana estive com um conhecido, grande investidor.
Ele recebeu uma oferta do Credit Suisse para uma aplicação em dólares. Funciona assim:
Se o dólar continuar caindo ele ganha até 23% ao ano. O que passar disso é ganho do Credit Suisse.
Se o dólar se valorizar, o banco garante ao menos 6% de remuneração nominal para sua aplicação.
Na conta dos vendedores do banco, a aposta é que o dólar chegue a R$ 1,32 este ano.
Sabe o que significa?
O sujeito aplica US$ 1 milhão. Pelo dólar a R$ 1,56, converte em R$ 1.560.000,00
Aplica na Selic a 12,5%. Em um ano, o investimento sobe para R$ 1.755.000,00.
Daqui um ano, se o dólar estiver de fato em R$ 1,32, ele converterá o saldo em US$ 1.329.545. O ganho será de 33% em um ano.
Não se trata de mero exercício matemático. Trata-se do raciocínio que está embalando todo o mercado a manter a aposta na apreciação do real.
O custo que o BC infringiu ao país com essa alta de 0,25 na Selic não é apenas o do impacto direto no custo da dívida. É a manutenção da fogueira acesa das apostas contra o câmbio, é a aceleração do desmonte das indústrias, o aumento do custo de ampliação das reservas cambiais.