quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

domingo, 12 de dezembro de 2010

Jabor, o bobo da corte


O ódio do Bobo da Corte

Texto de Francisco Barreira publicado no blog Fatos Novos Novas Idéias em 06/12/10

Arnaldo Jabor não chega a ter o brilho de um Nelson Rodrigues ou de um Carlos Lacerda, mas defende bem o script da Direita Brasileira, fazendo-se de bobo da Corte Global o que lhe permite dizer qualquer coisa, por conta da irreverência.

Não é que o pobre Jabor e a acanalhada Direita Brasileira odeiem o Lula pelo que ele é. O ódio é pelo que Lula representa E ele representa o Brasil que finalmente deu certo. O mulato que não acha importante falar inglês (já houve tempo que parecia que não poderíamos respirar se não falássemos francês) e não vive animalescamente, apenas para um dia levar seus pobres rebentos à Disney Word, fazendo, de passagem, suas comprinhas em Miami.

Um mulato boêmio, malemolente, que não acha tanta graça assim nesses Beatles, e não sabe o que é é Pop. E o que é Pop? Mulato empreendedor e indomável que construiu uma das maiores, mais generosas e respeitadas potências do Planeta. Um mestiço sem raça, graças a Deus, e que troca esse tal de Sting (o que é Sting?) pela Calcinha Preta devidamente misturada com o Luar do Sertão.

Há noventa anos, Lima Barreto, um dos maiores escritores brasileiros, internou-se num hospital para tratamento de doenças mentais que existe até hoje no Engenho de Dentro (Rio). O médico que o atendeu uma anta preconceituosa de classe média, igualzinha à que existe até hoje e que poderia chamar-se Jabor, escreveu na ficha: “Mulato, alcoólatra, aparentes quarenta anos. Diz que é escritor”.

E Jabor, aquele médico preconceituoso atualizado, descreve Lula: mulato, cachaceiro, malemolente, pensa que é estadista e que vai continuar influindo. E vaticina: “Nada disso, Lula. Vá para casa e tome sua pinguinha serena, ao lado de dona Marisa”.

O coitado do Jabor, como o médico idiota que examinou Lima Barreto, não consegue ver que Lula é estadista sim e não vai para casa, não. Vai continuar influindo e viajado pelo País, pelo Mundo e, principalmente, pela América Sul, onde consolidará aquilo que transformou-se no verdadeiro projeto de sua vida: a construção da União Sul-Americana, a Pátria Grande.

Jabor, Lacerda e Nelson Rodrigues não entendem isso. Não entendem que o Brasil e esse mulato sem curso superior podem dar certo. Eles e nossa ridícula classe média alienada carregam a herança cultural dos senhores de engenho e dos fazendeirões do café.

Seu raciocínio síntese é o do “complexo de vira lata”. Mas eles se colocam fora disso. Acham que o complexo é só da negrada e dos mestiços sem rumo e sem prumo na vida. Eles não, eles se consideram iguais aos europeus e americanos: vestem a mesma roupa, comem a mesma comida e curtem a mesma música. Entretanto, no fundo, eles são vassalos e, como diz o Chico Buarque, falam grosso com os bolivianos e fino com os americanos. Gentinha da pior qualidade.

29-11-10 atualizado em 30-11-10

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O pobres, a elite e o ENEM


O PIG e o Serra odeiam o ENEM por causa dos pobres
publicado em 08/11/10 no Conversa Afiada

O Estadão de hoje dedica a capa e duas páginas – A15 e A16 a desmoralizar o ENEM.
Uma desmoralização arrasadora.
É porque 0,04% dos alunos VOLUNTARIAMENTE inscritos na prova talvez venham a refazê-la, por causa de uma troca do cabeçalho de alguns cartões de resposta.
0,04% !
Que horror!
Foram 4,6 milhões estudantes inscritos e talvez 2 mil tenham a possibilidade de refazer a prova.
Ontem, o UOL e a Folhaonline bradaram o dia inteiro contra a “inépcia” do ENEM.
A Folha (**), se entende.
Ano passado, as provas vazaram da gráfica da Folha, que foi devidamente afastada da concorrência deste ano.
O Estadão se acha na obrigação, todo ano, de desmoralizar o ENEM.
Como fez no ano passado, com a divulgação do vazamento.
Por que o Estadão, a Folha (**) e o Serra são contra o ENEM ?
Ano passado, com o vazamento na gráfica da Folha, o Serra, célere, tirou as universidades de São Paulo do ENEM – para acentuar o “fracasso” do Governo Lula.
Qual é o problema deles com o ENEM ?
O Governo Fernando Henrique instituiu o ENEM para copiar o SAT americano: o vestibular único em todo o país, para facilitar o acesso às universidades federais e o deslocamento de estudantes pelo país afora.
O que tem a vantagem de baratear dramaticamente o sistema.
Antes – como em São Paulo, hoje – cada “coronel” faz o seu vestibular e estimula a iniciativa privada – com os serviços do vestibular e os cursinhos o Di Gênio.
De Fernando Henrique para cá, o ENEM cresceu 30 vezes !
30 vezes, amigo navegante.
Saiu de 157 mil inscritos em 98 para 4,6 milhões de hoje.
É sempre assim.
O Bolsa Família da D. Ruth atendia quatro famílias.
O do Lula, que virou “Bolsa Esmola”, segundo Mônica Serra, a grande estadista chileno-paulista, atende 40 milhões.
O que é o ENEM ?
É o passaporte do pobre à universidade pública.
É por isso que a Folha, o Estado e o Serra odeiam o ENNEM.
Porque esse negócio de pobre estudar é um problema.
Fica com mania de grandeza, de autonomia.
Pensa que pode mandar no seu destino.
E não acredita mais na fita adesiva do “perito” Molina.
Isso é um perigo.
Pobre é para ficar na senzala.
50 universidades públicas federais aderiram ao ENEM.
Isso significa que 47 mil vagas em universidades federais dependem do resultado do ENEM.
Em 2004, um milhão de estudantes se inscreveu no ENEM.
Aí, o Lula e o Ministro Haddad resolveram estabelecer o ENEM como critério para entrar no ProUni (para a elite branca – e separatista, no caso de São Paulo – não dizer que o ProUni é a “faculdade de pobre burro”).
Sabe o que aconteceu, amigo navegante ?
O ENEM passou de um ano para o outro de um milhão para 2,9 milhões de inscritos.
Quanto pobre !
Para o ano que vem, o ministro Haddad estabeleceu que o ENEM também será critério para receber financiamento do FIES.
Vai ser outro horror !
Mais pobre inscrito no ENEM para pagar a faculdade com financiamento público.
Um horror !
Tudo público.
ENEM, faculdade, financiamento …
“Público” quer dizer “de todos”.
Amigo navegante, sabe qual foi o contingente nacional que mais cresceu entre os inscritos no ENEM ?
Agora é que a elite branca – e separatista, no caso de São Paulo – vai se estrebuchar.
Foi o Nordeste !
Que horror !
Já imaginou, amigo navegante ?
Nordestino pobre com diploma de engenheiro ?
Nordestina pobre com diploma de médica ?
Vai faltar pedreiro.
Empregada doméstica.
Aí é que a elite branca – e separatista, no caso de São Paulo – vai se estrebuchar mesmo.


Paulo Henrique Amorim

domingo, 31 de outubro de 2010

Precisamos continuar atentos



Imagem retirada da matéria postada no Óleo do Diabo

Dilma representa luta que "vem de longe".

publicada em 31/10/10 no Escrivinhador


Serra não deu as caras pela manhã nesse dia decisivo. Ele prefere a noite e as sombras. Dilma começou a jornada com um café-da-manhã simbólico em Porto Alegre: ao lado de Alceu Collares (PDT), Olívio Dutra e Tarso Genro (PT). Já escrevi aqui que Dilma é o reencontro do PT com o trabalhismo de origem varguista.

Depois de lutar contra a ditadura em organizaçções de esquerda marxista, Dilma optou pelo PDT quando a democracia voltou, nos aos 80. Esteve ao lado de Brizola, foi secretária de Alceu Collares no governo gaúcho. E não renega essa história, assim como não renega o passado de resistência à ditadura.

Brizola, esse grande brasileiro, costumava dizer: “venho de longe, de muito longe”. A frase tinha um sentido duplo: ele queria dizer que vinha de uma cidadezinha lá do interior gaúcho, e ao mesmo tempo que representava uma corrente de lutas enraizada no imaginário popular. Era um contraponto ao PT – que na época imaginava que as lutas populares no Brasil tinham começadao em 79, com as greves do ABC.

Dilma vem de longe, sim!

Dilma representa as lutas sociais do Brasil, e poderíamos ir buscar esse fio da história lá nas lutas anti-coloniais e anti-escravistas – de Tiradentes e Zumbi. Mas fiquemos no passado mais recente. Dilma é o tenentismo que lutou contra a República Velha. Dilma é o trabalhismo de esquerda. Dilma é o nacionalismo de Vargas – com Petrobrás, BNDES e o fortalecimento do Estado. Não é à toa que o ódio da elite anti-nacional contra Vargas tenha reaparecido agora com o ódio contra Lula e Dilma.

A candidata petista vem de muito longe.

Dilma é a Campanha da Legalidade em 61 – movimento em que Brizola resistiu contra o golpe, entricheirando-se no Palácio do Piratini e convocando a Rede da Legalidade.

Dilma é Luiz Carlos Prestes. Dilma é Arraes. Dilma é Francisco Julião e suas Ligas Camponesas.

Dilma é a resistência ao Golpe de 64, a resistência à ditadura e ao AI-5. Dilma é Lamarca, é Marighella e a esquerda de armas na mão contra a ditadura. Mas Dilma é também o MDB de Ulysses e da luta pela democracia formal. Nos anos 70, parecia que essa duas vertentes não iriam se encontrar nunca. Mas elas se encontraram!

Dilma é a greve de 79. Dilma é Vila Euclides. Dilma é a Campanha das Diretas e a Constituição cidadã de 88.

Dilma é Brizola. Dilma é Lula.

Dilma vem de longe. Concentra em sua candidatura lutas históricas do povo brasileiro. Dilma é a defesa de um legado de 8 anos. Defesa de um governo que teve, sim, muitos erros. Mas significou um avanço tremendo nesse país de tradição oligárquica e conservadora.

Dilma é a retomada do fio da história do Brasil. Um fio interrompido em 64. Dilma é o MST e as centrais sindicais. Dilma é o Brasil dos movimentos sociais, da luta contra concentração de terra e renda, contra a concentração da informação na mão de meia dúzia de famílias.

É importante eleger uma mulher – sim! Importantíssimo, e nos próximos dias poderemos avaliar isso melhor. Mas Dilma não é simplesmente “mulher”. É uma brasileira que ousou lutar contra a ditadura, em organizações clandestinas. Isso a velha elite não perdoa. É uma marca tão forte quanto os quatro dedos do operário que nunca será aceito na velha turma.

Dilma vem de longe. Dilma não é uma “invenção do Lula”. Dilma concentra a esperança de um Brasil mais justo.

Nesse dia histórico, depois de uma campanha exaustiva e lamentável por parte da direita, é preciso ainda estar atento. Porque do outro lado há gente que também vem de longe.

Serra representa o golpismo de Lacerda, Olympio Mourão, das marchas com Deus e a família. Serra é a concentração de renda dos militares, Serra é a ditadura. Infelizmente, jogou no lixo sua história somando-se ao que há de pior na história brasileira.

Serra vem de longe também. Serra é o liberalismo de FHC, Serra é o desmonte do Estado, Serra é Brasil dos anos 90 que se ajoelhava diante dos EUA, e que desprezava a unidade latino-americana.

Serra é um Brasil que vem de longe nos grandes e pequenos golpes contra a democracia. Por isso, é preciso estar atento nessa dia decisivo. Atento às urnas, aos boletins de urna, à fiscalização das urnas.

Votar em Dilma é votar num país que vem de longe. E que pode chegar muito mais longe nas próximas décadas.

terça-feira, 5 de outubro de 2010

Dois pesos...



Maria Rita Kehl - O Estado de S.Paulo

Este jornal teve uma atitude que considero digna: explicitou aos leitores que apoia o candidato Serra na presente eleição. Fica assim mais honesta a discussão que se faz em suas páginas. O debate eleitoral que nos conduzirá às urnas amanhã está acirrado. Eleitores se declaram exaustos e desiludidos com o vale-tudo que marcou a disputa pela Presidência da República. As campanhas, transformadas em espetáculo televisivo, não convencem mais ninguém. Apesar disso, alguma coisa importante está em jogo este ano. Parece até que temos luta de classes no Brasil: esta que muitos acreditam ter sido soterrada pelos últimos tijolos do Muro de Berlim. Na TV a briga é maquiada, mas na internet o jogo é duro.

Se o povão das chamadas classes D e E - os que vivem nos grotões perdidos do interior do Brasil - tivesse acesso à internet, talvez se revoltasse contra as inúmeras correntes de mensagens que desqualificam seus votos. O argumento já é familiar ao leitor: os votos dos pobres a favor da continuidade das políticas sociais implantadas durante oito anos de governo Lula não valem tanto quanto os nossos. Não são expressão consciente de vontade política. Teriam sido comprados ao preço do que parte da oposição chama de bolsa-esmola.

Uma dessas correntes chegou à minha caixa postal vinda de diversos destinatários. Reproduzia a denúncia feita por "uma prima" do autor, residente em Fortaleza. A denunciante, indignada com a indolência dos trabalhadores não qualificados de sua cidade, queixava-se de que ninguém mais queria ocupar a vaga de porteiro do prédio onde mora. Os candidatos naturais ao emprego preferiam viver na moleza, com o dinheiro da Bolsa-Família. Ora, essa. A que ponto chegamos. Não se fazem mais pés de chinelo como antigamente. Onde foram parar os verdadeiros humildes de quem o patronato cordial tanto gostava, capazes de trabalhar bem mais que as oito horas regulamentares por uma miséria? Sim, porque é curioso que ninguém tenha questionado o valor do salário oferecido pelo condomínio da capital cearense. A troca do emprego pela Bolsa-Família só seria vantajosa para os supostos espertalhões, preguiçosos e aproveitadores se o salário oferecido fosse inconstitucional: mais baixo do que metade do mínimo. R$ 200 é o valor máximo a que chega a soma de todos os benefícios do governo para quem tem mais de três filhos, com a condição de mantê-los na escola.

Outra denúncia indignada que corre pela internet é a de que na cidade do interior do Piauí onde vivem os parentes da empregada de algum paulistano, todos os moradores vivem do dinheiro dos programas do governo. Se for verdade, é estarrecedor imaginar do que viviam antes disso. Passava-se fome, na certa, como no assustador Garapa, filme de José Padilha. Passava-se fome todos os dias. Continuam pobres as famílias abaixo da classe C que hoje recebem a bolsa, somada ao dinheirinho de alguma aposentadoria. Só que agora comem. Alguns já conseguem até produzir e vender para outros que também começaram a comprar o que comer. O economista Paul Singer informa que, nas cidades pequenas, essa pouca entrada de dinheiro tem um efeito surpreendente sobre a economia local. A Bolsa-Família, acreditem se quiserem, proporciona as condições de consumo capazes de gerar empregos. O voto da turma da "esmolinha" é político e revela consciência de classe recém-adquirida.

O Brasil mudou nesse ponto. Mas ao contrário do que pensam os indignados da internet, mudou para melhor. Se até pouco tempo alguns empregadores costumavam contratar, por menos de um salário mínimo, pessoas sem alternativa de trabalho e sem consciência de seus direitos, hoje não é tão fácil encontrar quem aceite trabalhar nessas condições. Vale mais tentar a vida a partir da Bolsa-Família, que apesar de modesta, reduziu de 12% para 4,8% a faixa de população em estado de pobreza extrema. Será que o leitor paulistano tem ideia de quanto é preciso ser pobre, para sair dessa faixa por uma diferença de R$ 200? Quando o Estado começa a garantir alguns direitos mínimos à população, esta se politiza e passa a exigir que eles sejam cumpridos. Um amigo chamou esse efeito de "acumulação primitiva de democracia".

Mas parece que o voto dessa gente ainda desperta o argumento de que os brasileiros, como na inesquecível observação de Pelé, não estão preparados para votar. Nem todos, é claro. Depois do segundo turno de 2006, o sociólogo Hélio Jaguaribe escreveu que os 60% de brasileiros que votaram em Lula teriam levado em conta apenas seus próprios interesses, enquanto os outros 40% de supostos eleitores instruídos pensavam nos interesses do País. Jaguaribe só não explicou como foi possível que o Brasil, dirigido pela elite instruída que se preocupava com os interesses de todos, tenha chegado ao terceiro milênio contando com 60% de sua população tão inculta a ponto de seu voto ser desqualificado como pouco republicano.

Agora que os mais pobres conseguiram levantar a cabeça acima da linha da mendicância e da dependência das relações de favor que sempre caracterizaram as políticas locais pelo interior do País, dizem que votar em causa própria não vale. Quando, pela primeira vez, os sem-cidadania conquistaram direitos mínimos que desejam preservar pela via democrática, parte dos cidadãos que se consideram classe A vem a público desqualificar a seriedade de seus votos.

domingo, 26 de setembro de 2010

A quem recorrer agora?

Dez sujeitos estranhos, vestindo roupas estranhas, falando estranhamente (talvez seja a lingua dos deuses ou a lingua dos anjos) que são pagos pelo erário público, é não é pouco, para tomar decisões. Pois é, esses sujeitos, estranhamente, levaram dezenas de horas para responder a um político cuja a ficha é comprovadamente suja se ele poderia ou não se candidatar ferindo os preceitos da Lei denominada "Ficha Limpa". E, pasmem, não conseguiram tomar nenhuma decisão. Preferiram ficar em cima do muro. E isto não é muito bom nestes tempos bicudos. Acho que vamos ter que chamar os universitários. Ou, talvez, o Neymar. Será que o Neymar ainda tem aquela capa do Batman que ele ganhou em um de seus aniversários?

sábado, 25 de setembro de 2010

Perdendo a ternura!

Estamos há 30 anos amassando barro. Há 30 anos percorrendo as periferias desse imenso Brasil. Há 30 anos, nas madrugadas, nas portas de fábricas. Levamos muita porrada da PM. Há 30 anos sofrendo os mais variados preconceitos. Há 30 anos denunciando essa elite corrupta e corrempedora. Há 30 anos comendo o pão que o diabo amassou! Há 30 anos recolhendo migalhas! Há 30 anos esperando o bolo crescer. Há 30 anos esperando o metrô. Há 30 anos trabalhando para consolidar um partido. Há 30 anos lutando para chegar ao poder. E vocês acham que vamos deixar meia dúzia de "iluminados" utilizando-se de um discurso, no mínimo, idiota tomar da gente o poder que conquistamos às duras penas. Nem fododendo! Comecem a trabalhar! Formem um partido político! Tenham pelo menos uma idéia na cabeça! Tenham pelo menos um discurso que se possa entender! Tenham pelo menos um mínimo de organização. Deixem de terceirizar à velha mídia o que é obrigação do político! Tenham povo! Tenham povo! Não confundam sociedade com socialite! Não confundam ser cult com cultura! Deixem de ser vira-latas! Depois, sim, venham competir conosco! Mas corram! Corram muito porque senão pode não haver tempo hábil até 2018!

domingo, 19 de setembro de 2010

Conquistar a soberania popular



Texto do Prof. Fábio Konder Comparato(*) publicado no ConversaAfiada em19/09/10:


PARA QUE O POVO BRASILEIRO SE PONHA DE PÉ

Dentro de poucos dias realizaremos, mais uma vez, eleições em todo o país. Elas coincidirão com o 22º aniversário da promulgação da atual Constituição. Quer isto dizer que já vivemos em plena democracia?

Nada mais ilusório. Se o regime democrático implica necessariamente a atribuição de poder soberano ao povo, é forçoso reconhecer que este continua, como sempre esteve, em estado de menoridade absoluta.

Povo, o grande ausente
Quando Tomé de Souza desembarcou na Bahia, em 1549, munido do seu famoso Regimento do Governo, e flanqueado de um ouvidor-mor, um provedor-mor, clero e soldados, a organização político-administrativa do Brasil, como país unitário, principiou a existir. Tudo fora minuciosamente preparado e assentado, em oposição ao descentralismo feudal das capitanias hereditárias. Notava-se apenas uma lacuna: não havia povo. A população indígena, estimada na época em um milhão e meio de almas, não constituía, obviamente, o povo do novel Estado; tampouco o formavam os 1.200 funcionários – civis, religiosos e militares – que acompanharam o Governador Geral.

Iniciamos, portanto, nossa vida política de modo original: tivemos Estado, antes de ter povo. Quando este enfim principiou a existir, verificou-se desde logo que havia nascido privado de palavra.

Foi assim que o Padre Antonio Vieira o caracterizou, no Sermão da Visitação de Nossa Senhora, pregado em Salvador em junho de 1640. Tomando por mote a palavra latina infans, assim discorreu o grande pregador:

“Bem sabem os que sabem a língua latina, que esta palavra, infans, infante, quer dizer o que não fala. Neste estado estava o menino Batista, quando a Senhora o visitou, e neste permaneceu o Brasil muitos anos, que foi, a meu ver, a maior ocasião de seus males. Como o doente não pode falar, toda a outra conjectura dificulta muito a medicina. (…) O pior acidente que teve o Brasil em sua enfermidade foi o tolher-se-lhe a fala: muitas vezes se quis queixar justamente, muitas vezes quis pedir o remédio de seus males, mas sempre lhe afogou as palavras na garganta, ou o respeito, ou a violência; e se alguma vez chegou algum gemido aos ouvidos de quem o devera remediar, chegaram também as vozes do poder, e venceram os clamores da razão”.

Quase às vésperas de nossa Independência, esse estado de incapacidade absoluta do povo afigurava-se, paradoxalmente, não como um defeito político, mas como uma exigência de ordem pública. Em maio de 1811, o nosso primeiro grande jornalista, Hipólito José da Costa, fez questão de lançar nas páginas do Correio Braziliense, editado em Londres, uma severa advertência contra a eventual adoção no Brasil do regime de soberania popular:

“Ninguém deseja mais do que nós as reformas úteis; mas ninguém aborrece mais do que nós, que essas reformas sejam feitas pelo povo; pois conhecemos as más conseqüências desse modo de reformar; desejamos as reformas, mas feitas pelo governo; e urgimos que o governo as deve fazer enquanto é tempo, para que se evite serem feitas pelo povo.”

A nossa independência, que paradoxalmente não foi o resultado de uma revolta do povo brasileiro contra o rei de Portugal, mas, ao contrário, do povo português contra o rei no Brasil, não suscitou o menor entusiasmo popular. O naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire pôde testemunhar: “A massa do povo ficou indiferente a tudo, parecendo perguntar como o burro da fábula: – Não terei a vida toda de carregar a albarda ? ”

A mesma cena, com personagens diferentes, é repetida 67 anos depois, na proclamação da república. “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava“, lê-se na carta, tantas vezes citada, de Aristides Lobo a um amigo. “Muitos acreditavam sinceramente estar vendo uma parada.”

O disfarce partidário-eleitoral

Mas afinal, era preciso pelo menos fazer de conta que o povo existia politicamente. Para tanto, os grupos dominantes criaram partidos e realizaram eleições. Mas tudo sob forma puramente teatral. O povo tem o direito de escolher alguns atores, mas nunca as peças a serem exibidas. Os atores não representam o povo, como proclamam as nossas Constituições. Eles tampouco representam seu papel perante o povo (sempre colocado na platéia), mas atuam de ouvidos atentos aos bastidores, onde se alojam os “donos do poder”.

No Império, Joaquim Nabuco qualificava a audácia com que os partidos assumiam suas pomposas denominações como estelionato político. Analogamente no início da República, o fato de a lei denominar oficialmente eleições as “mazorcas periódicas”, como disse Euclides da Cunha, constituia “um eufemismo, que é entre nós o mais vivo traço das ousadias de linguagem”.

A Revolução de 1930 foi feita justamente para pôr cobro às fraudes eleitorais. Mas desembocou, alguns anos depois, na ditadura do “Estado Novo”, que suprimiu as eleições, sem no entanto dispensar a clássica formalidade da outorga à nação (já não se falava em povo) de uma nova “Constituição”.

Após o término da Segunda Guerra Mundial, em que muitos dos nossos pracinhas tiveram suas vidas ceifadas na luta contra o nazifascismo, fomos moralmente constrangidos a iniciar uma nova vida política, sob o signo da democracia representativa. Mas a legitimidade desta durou pouco tempo. Já em 7 de março de 1947, ou seja, menos de cinco meses depois de promulgada a nova Constituição, o Partido Comunista foi extinto por decisão judicial ( nesta terra, a balança da Justiça sempre cedeu aos golpes da espada). Em fevereiro de 1954, com o “manifesto dos coronéis”, teve início a preparação do golpe militar de 1964. O estopim para deflagrá-lo foi a iminência de que as forças de esquerda chegassem eleitoralmente ao poder e executassem o programa das “reformas de base”, com o desmantelamento econômico da oligarquia.

Obviamente, para os nossos grupos dominantes, os cidadãos podem votar como quiserem nas eleições, mas desde que se lembrem de que “nasceram para mandados e não para mandar”, segundo a saborosa expressão camoniana.

O regime autoritário, instaurado em 1964 pela caserna, com o apoio do empresariado, dos latifundiários e da Igreja Católica, sob a proteção preventiva do governo norte-americano, reconheceu que a assim chamada “Revolução Democrática” não poderia suprimir as eleições e os partidos. Manteve-os, portanto, mas reduzidos à condição de simples fantoches. Era a “democracia à brasileira”, como a qualificou o General que prendeu o grande Advogado Sobral Pinto. Ao que este retrucou simplesmente: “General, eu prefiro o peru à brasileira”.

O regime de terrorismo de Estado foi devidamente lavado pelo Poder Judiciário, que decidiu anistiar, com as lamentações protocolares, os agentes públicos que mataram, torturaram e estupraram milhares de oponentes políticos.

Chegamos à fase atual, em que as eleições já não incomodam os oligarcas, porque mantém tudo exatamente como dantes no velho quartel de Abrantes. O povo pode até assistir, indiferente ou risonho, uma campanha presidencial, em que os principais candidatos dão-se ao luxo de não discutir um só projeto ou programa de governo, preferindo ocupar todos os espaços da propaganda oficial com chalaças ou sigilos.

Tudo parece, assim, ter entrado definitivamente nos eixos. Um olhar atento para a realidade política, porém, não deixará de notar que a nossa tão louvada democracia carece exatamente do essencial: a existência de um povo soberano.

Iniciamos nossa vida política, sem povo. Alcançamos agora a maturidade, como se o povo continuasse politicamente a não existir.

Sem dúvida, a Constituição oficial declara, solenemente, que “todo poder emana do povo”, acrescentando que ele o exerce “por meio de representantes eleitos ou diretamente” (art. 1º, parágrafo único). Mas toda a classe política sabe – e o Poder Judiciário finge ignorar – que na realidade “todo poder emana dos grupos oligárquicos, que o exercem em nome do povo, por meio dos representantes por este eleitos”.

Daí a questão inevitável: o que fazer para mudar esse triste estado de coisas?

A emancipação política do povo brasileiro

É preciso atacar desde logo o ponto principal.

A soberania, na Idade Moderna, consiste, antes de tudo, em aprovar a Lei das Leis, isto é, a Constituição. Trata-se de uma prerrogativa que só pode ser exercida diretamente. Quem delega o seu exercício a outrem está, na realidade, procedendo à sua alienação. O chamado “poder constituinte derivado” é, portanto, um claro embuste.

Ora, neste país, Constituição alguma, em tempo algum, jamais foi aprovada pelo povo. Todas elas foram votadas e promulgadas por aqueles que se diziam, abusivamente, representantes do povo; quando não foram simplesmente decretadas pelos ocupantes do governo.

O mesmo ocorre com as emendas constitucionais. A Constituição Federal em vigor, por exemplo, já foi emendada (ou remendada) 70 (setenta) vezes em 22 anos; o que perfaz a apreciável média de mais de 3 emendas por ano. Em nenhuma dessas ocasiões, o povo foi convocado para dizer se aceitava ou não tais emendas.

Isto, sem falar no fato absurdo de que a Constituição Federal, ao contrário de várias Constituições Estaduais, não admite a iniciativa popular de emendas ao seu texto.

É preciso, pois, começar a reforma política (alguns preferem dizer a “Revolução”), reservando ao povo o poder nuclear de toda soberania. No nosso caso, ele consiste em aprovar, diretamente, não só a Constituição Federal, como também as Constituições Estaduais e as Leis Orgânicas Municipais, bem como suas subsequentes alterações respectivas.

Em segundo lugar, é indispensável reconhecer ao povo o direito de decidir, por si mesmo, mediante plebiscitos e referendos, as grandes questões que dizem respeito ao bem comum de todos. A Constituição Federal declara, em seu art. 14, que o plebiscito e o referendo, tal como o sufrágio eleitoral, são formas de exercício da soberania popular. Mas determina, no art. 49, inciso XV, que “é da competência exclusiva do Congresso Nacional autorizar plebiscitos e convocar referendos”. Ou seja, o mandante somente pode manifestar validamente a sua vontade, se houver concordância dos mandatários. Singular originalidade do direito brasileiro!

Para corrigir esse despautério, a Ordem dos Advogados do Brasil, por proposta do autor destas linhas, apresentou anteprojetos na Câmara dos Deputados e no Senado Federal (transformados no projeto de lei nº 4.718/2004 na Câmara dos Deputados e projeto de lei nº 001/2006 no Senado), pelos quais o plebiscito e o referendo podem ser realizados mediante iniciativa do próprio povo, ou por requerimento de um terço dos membros da Câmara ou do Senado.

A proposta da OAB procurou harmonizar os dispositivos antagônicos da Constituição Federal, interpretando a autorização e a convocação de plebiscitos e referendos, pelo Congresso Nacional, como atribuições meramente formais e não de mérito.

Previram ainda os anteprojetos da OAB novos casos de obrigatoriedade na realização de plebiscitos e referendos.

Assim é que, para impedir a repetição da “privataria” do governo FHC, passaria a ser obrigatório o plebiscito para “a concessão, pela União Federal, a empresas sob controle direto ou indireto de estrangeiros, da pesquisa e da lavra de recursos minerais e do aproveitamento de potenciais de energia hidráulica”; bem como para a concessão administrativa, pela União, de todas as atividades ligadas à exploração do petróleo.

Quanto aos referendos, a fim de evitar o absurdo da legislação eleitoral em causa própria, determinam os projetos de lei citados a obrigatoriedade de serem referendadas pelo povo todas as leis sobre matéria eleitoral, cujo projeto não tenha sido de iniciativa popular.

Inútil dizer que tais projetos de lei acham-se devidamente paralisados e esquecidos em ambas as Casas do Congresso.

Para completar o quadro de transformação da soberania popular retórica em poder supremo efetivo, tive também ocasião de propor duas medidas indispensáveis em matéria eleitoral. De um lado, o financiamento público das campanhas; de outro lado, a introdução do recall ou referendo revocatório de mandatos eletivos, proposta também pela OAB e objeto da emenda constitucional nº 073/2005 no Senado Federal. Assim, o povo assumiria plenamente a posição de mandante soberano: ele não apenas elegeria, mas também teria o direito de destituir diretamente os eleitos. Para os que se assustam com tal “excesso”, permito-me lembrar que o recall já existe e é largamente praticado em 19 Estados da federação norte-americana.

Não sei se tais medidas tornar-se-ão efetivas enquanto eu ainda estiver neste mundo. O que sei, porém, com a mais firme das convicções, é que sem elas o povo brasileiro continuará a viver “deitado eternamente em berço esplêndido”, sem condições de se pôr de pé, para exigir o respeito devido à sua dignidade.


(*) Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, Doutor Honoris Causa da Universidade de Coimbra.

sábado, 18 de setembro de 2010

Código 55 - O Terror midiático no Brasil

Esse vídeo mostra como concessões públicas são usadas para tripudiar sobre nossa sociedade e ignorar nossa luta pela plena democracia.




Vídeo obtido no canal do youtube de GianaKharrara

Veja lá também O Evangelho segundo William Bonner.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Você pode matar uma flor, uma rosa, destruir um jardim... mas a chegada da primavera, vc nunca vai poder evitar!


Ivana Bentes, diretora da Escola de Comunicação (ECO/UFRJ), produziu um texto em que elegeu um antigo presidente da República, já morto, que, de volta, comenta os fatos políticos de agora. O escolhido foi Jango. Leia e confira na editoria “Painel de Argumentos”, pois qualquer semelhança não é mera coincidência.

Play it again, Jango!

Ivana Bentes, pesquisadora e diretora da Escola de Comunicação da UFRJ

Morri no exílio, na província Argentina de Corrientes, em 6 de dezembro de 1976, sozinho, vítima de ataque cardíaco, numa fazenda da fronteira. Tentava voltar para o Brasil, de onde me expulsaram com o Golpe Militar depois que anunciei, no dia 13 de março de 1964 num comício para 150 mil pessoas na Central do Brasil que iria fazer a Reforma Agrária, Urbana, as reformas na Educação, a Reforma Eleitoral, Tributária...
Não deixaram fazer nada e me derrubaram! As forças mais conservadoras da sociedade Brasileira se uniram e foram convocadas a me depor, toda a imprensa ficou contra mim. Esse já era o terceiro golpe midiático-militar, botaram a classe média horrorizada na rua, as senhoras da TFP, editoriais alarmistas e moralistas, páginas e páginas de jornais, rádio, TV. Assustaram todos até que cai no dia 1º de abril de 1964.
Não adiantou, estou de volta! Não sei como, só sei que eu João Jango Goulart, ex-presidente deposto, retornei, é dia de eleição e estou concorrendo de novo para Presidente do Brasil. Mudei de partido. Estou grisalho, perdi um dedo da mão (onde?) e me dou conta que as forças que me derrubaram em 1964 estão quase todas aí. Continuo com apoio popular, estou com enorme vantagem nas pesquisas, mas por que os jornais dos últimos meses são todos contra mim e meu partido? Estou sendo de novo linchado? Em 64 diziam que eu ia implantar o Comunismo no Brasil e agora que estou implantando a Corrupção em Pindorama!
Meu assessor me informa que vamos assistir a fita com o meu debate na Televisão. Estou reconhecendo o pessoal da pesada de 64. Então tenho uma visão exata de quem eu sou e o que represento no Brasil de 2006, me vendo pelos olhos dos meus inquisidores. Roda o VT. Não, dá um play. Play it again, Jango! Ouço, e então presente, passado e futuro se dobram na tela da TV.
Entrevistador e dono de uma empresa de TV.

-Senhor Presidente, de todas as reformas que o senhor propôs, uma é a mais perigosa de todas, é um acinte aos empresários da Comunicação, de Rádio e TV. Sr. Presidente, o senhor tentou entrar na nossa caixa preta, regular nossas empresas com uma Agência. Nos somos contra, Sr. Presidente! Onde já se viu? Deu está dado! Não queremos ninguém novo no negócio. Canal de TV pra Ong, pra Universidade, pra favela? Eles não precisam de nada disso e ainda fazem uns vídeos que são umas porcarias. Qualidade temos nós com essa imagem plastificada, atrizes esticadas digitalmente, programas incitando à delação. Eles a gente emprega pra figuração, usa para vender celular e fazer propaganda da nossa diversidade cultural. Os pobres tem estilo, são vibe, hiper, mob, servem pra vender quinquilharia e show. Mas dar canal de TV pra essa gente, Presidente?
Jango. Eu tenho um ministro da cultura que é músico e negro e quer botar ilha de edição, câmeras de vídeo e internet de graça por onde der. É o início da Reforma da Cultura, da Educação, da Comunicação, junto com o Fundeb, o Fundo para a Educação, que eu criei lá em 62, e reeditamos agora. Por que ninguém fala do FUNDEB?! Eu tenho orgulho de estar implantando o Fundeb!! As cotas no Brasil! Estou botando os negros e os pobres dentro da Universidade. Temos que acabar o vestibular, tornar o acesso universal. Além disso eu criei o Bolsa Família, tirando um contingente da miséria, é a maior transferência de renda já feita nesse país. Eu apoio o MST, os Sem-Terto! Me deixem fazer as Reformas! As novas e aquelas, que vocês abortaram em 64!
Professor-Doutor-Pesquisador
-Desculpe, sr. Presidente. Eu fiz mestrado com bolsa Capes, doutorado com bolsa sanduíche em Paris VIII, CNPQ, e tive bolsa de pós-doutorado em Oxford. Meus alunos têm bolsa de iniciação artística, científica, extensão... Mas eu sou CONTRA a Bolsa Família!!! É assistencialismo dar R$ 50 (é muito, acostuma mal) para pobre. Populismo, sr. Presidente! Minhas bolsas eu ganhei todas por mérito. MÉRITO! E olhe que sou bolsista há 10 anos! Deus me livre perder minha bolsa!
Antropóloga, antes de entrar na roda de debate.
-Ô diretor, chama um negro ai para aparecer no programa, mas tem que ser contra as cotas. A gente é branco, professor-doutor, não vale. É pro povo entender que é uma merda, que eles tem que entrar para a Universidade sozinhos, por mérito, se não vai cair o nível da universidade. Botar um antropólogo branco, louro de olhos azuis falando mal das cotas não vale, vão cair de pau na gente. Tem que ser negro falando mal das conquistas dos negros.
Diretor de TV
-Você sabe, a gente detona as cotas diariamente nos editoriais, colunas, manchetes, mas nas novelas tem que ser a garota negra com o galã branco. Botamos na tela uns negros limpinhos, bonitos, cheios de dignidade. Provamos que eles vão vencer sozinhos. COTA pra que? Nunca fomos racistas! Querem criar o racismo no Brasil, senhor presidente, O senhor está muito mal assessorado nessa área. Aliás, não vai ter cota para negros em empresas de TV, vai? Deus me livre! Não dá pra fazer Escrava Isaura no Leblon.
Entrevistador-cronista-consultor
-Senhor Candidato, o senhor está na frente das pesquisas, mas como esse povo ignorante, desdentado, feio, pode decidir por mim? EU que frequentava o Palácio do Planalto, que era amigo e confidente do sociólogo, seu cronista-conselheiro. EU que sou especialista em pornografia política. Achei que poderia ser de direita mas escrever genialmente como o Nelson , mas não tenho esse talento. Estou aqui me olhando na TV e só vejo um publicitário mal sucedido, porque o MEU candidato a presidência vai perder as eleições e meus amigos vão ficar fora do poder. Sou a encarnação das forças do ressentimento. Pelo menos sou psicanalizado, me acho um crápula, mas tudo bem. Os empresários me pagam 10, 20 mil por palestra ou consultoria para EU anunciar o Apocalipse. Não tenho o que perguntar só queria dizer olhando bem na sua cara. Eu te odeio, Sr. Presidente e morrerei escrevendo contra tudo o que o senhor significa (baba).
Apresentadora de TV. Então Sr Jango, depois de ouvir isso tudo sobre o seu governo, o que significará a sua reeleição?
Jango: “O triunfo da beleza e da justiça”. E não me chamem mais de Jango, o ex-presidente morreu, no golpe de 64, exilado na fronteira, em 1974. O novo presidente nasceu das crises que vocês criaram, tentando me derrubar , uma duas, três, quantas vezes? Não estou mais só, em 2006, tenho 55% das intenções de votos, atingi o coração do Brasil, sou uma radicalização da democracia. Meu nome é Muitos. Sou uma potência da Multidão.

Visto na seção comentários do Tijolaço e extraído daqui de 05/10/06.


sexta-feira, 10 de setembro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

O sigilo fiscal só interessa a quem tem o que esconder


Direto do excelente blog do Rodrigo Viana, Escrivinhador.

Parodiando "Certas Canções" de Milton Nascimento, o texto abaixo "cabe tão dentro de mim que perguntar carece como não fui eu que fiz":

QUEM TEM MEDO DA DEVASSA?

por João Whitaker

Vocês repararam como no discurso oficial em torno do “escândalo” da Receita Federal aparece reiteradamente o argumento da “vida devassada” – no caso, a vida da Verônica Serra?

A idéia é de que a quebra de sigilo representa uma violação escandalosa da vida privada de cada um, que vê suas contas escancaradas. Um risco para o Estado de Direito, que deve zelar pela privacidade dos seus cidadãos.

Formalmente, o argumento é corretíssimo, tudo que a Lúcia Hippolito queria para se indignar à vontade na CBN. Há de fato aí uma questão que deve ser averiguada, pois não é agradável saber que nossa administração pública não zela como deveria por nossos dados pessoais. Mas sinceramente eu nunca confiei plenamente que meus dados fornecidos para a tal Nota Fiscal Paulista, ou para fazer o Bilhete Único, ou mesmo para tirar os documentos do carro fossem assim tão religiosamente guardados. Aliás, o que não falta é documento de carro clonado surgindo por ai.

No âmbito da iniciativa privada, para não falar em cartões clonados com a “ajuda” de funcionários das instituições bancárias, não consigo mais usar minha conta UOL na internet de tanto Spams que recebo. No celular agora virou comum receber ligações de telemarketing. Pergunta: quem vazou meu mail e meu número para todos esses anunciantes?

Quando as próprias empresas alimentam uma cultura de vazamentos para todos os lados, e em um país em que o Estado ainda é uma máquina bastante corroída pela corrupção (e por isso vulnerável), não deveria parecer tão incomum um sujeito qualquer conseguir um atestado com um documento falso em um posto remoto da Receita Federal. É escandaloso, mas não é novidade.

A grande imprensa – consternada – resolveu agora analisar o porquê do escândalo “não pegar”: para ela, a grande maioria da população sequer paga IR, e por isso acha essa história um tanto complexa. Até ai, tudo ok: o povão não paga IR, e ainda bem. Esses assuntos podem mesmo lhe parecer distantes.

Agora, o que me espanta é essa divisão que vem subjacente ao argumento, como se houvesse dois grupos: um dos que pagam IR e entendem o escândalo, e outro dos que não pagam e não entendem.

Ai está o ponto sobre o qual vale chamar a atenção: há ainda um terceiro grupo, para o qual a mídia não deu atenção, pois entre os que pagam o IR, há uma enorme maioria para quem a palavra “devassa” não significa muita coisa. Em outras palavras, para quem trabalha honestamente e ganha seu salário a duras penas, e ainda paga o IR no fim do ano, ou recebe restituição, a palavra “devassa” ou mesmo “quebra de sigilo” não tem nem de longe o significado terrível e de desmoronamento do Estado que a grande mídia quer dar. No máximo pode significar uma dor de cabeça igual a de saber que seu documento foi clonado. Nada agradável, porém também nada que me faça achar que o Estado brasileiro de repente está desmoronando.

Isso porque para essa maioria, não há o que ser devassado. Querem ver meu IR? Sem problemas: vai aparecer lá que dou aulas em duas faculdades, que faço uma ou outra palestra, e que pago uma fortuna de IR no fim do ano por ter duas fontes de pagamento. Algum problema em devassar-me? Nenhum, salvo eventualmente algum constrangimento menor, quanto à privacidade de saberem meus bens, mas nada de muito significativo.

Ou seja, o discurso da “vida devassada” que a grande mídia está usando é de um elitismo sem tamanho. E por isso não pega também nem na classe média que paga IR.

Quem tem tanto medo de ter a vida fiscal “devassada” é certamente quem tem muito, mas muito a esconder. Quem tem muito dinheiro, quem declara bens incompatíveis com o estilo de vida pública que leva, e assim por diante. Ou seja, a elite da elite. Só para eles ter a “vida devassada” pode ter esse aspecto tão aterrorizante.

Acho até que boa parte da classe média deve inclusive olhar com certa ironia e um pouco de curiosidade perversa a possibilidade de saber quais as eventuais falcatruas que os famosos podem ter feito, e que tanto os fazem temer em ter as contas devassadas. Incluindo-se aí a filha do Serra.

João Whitaker
Arquiteto e Urbanista

domingo, 5 de setembro de 2010

Ouçam Getúlio Vargas

Excelente matéria publicada no Crônicas do Motta


Carta-testamento


Mais uma vez as forças e os interesses contra o povo coordenaram-se e novamente se desencadeiam sobre mim. Não me acusam, insultam; não me combatem, caluniam, e não me dão o direito de defesa. Precisam sufocar a minha voz e impedir a minha ação, para que eu não continue a defender, como sempre defendi, o povo e principalmente os humildes.

Sigo o destino que me é imposto. Depois de decênios de domínio e espoliação dos grupos econômicos e financeiros internacionais, fiz-me chefe de uma revolução e venci. Iniciei o trabalho de libertação e instaurei o regime de liberdade social. Tive de renunciar. Voltei ao governo nos braços do povo. A campanha subterrânea dos grupos internacionais aliou-se à dos grupos nacionais revoltados contra o regime de garantia do trabalho. A lei de lucros extraordinários foi detida no Congresso. Contra a justiça da revisão do salário mínimo se desencadearam os ódios. Quis criar liberdade nacional na potencialização das nossas riquezas através da Petrobrás e, mal começa esta a funcionar, a onda de agitação se avoluma. A Eletrobrás foi obstaculada até o desespero. Não querem que o trabalhador seja livre.

Não querem que o povo seja independente. Assumi o Governo dentro da espiral inflacionária que destruía os valores do trabalho. Os lucros das empresas estrangeiras alcançavam até 500% ao ano. Nas declarações de valores do que importávamos existiam fraudes constatadas de mais de 100 milhões de dólares por ano. Veio a crise do café, valorizou-se o nosso principal produto. Tentamos defender seu preço e a resposta foi uma violenta pressão sobre a nossa economia, a ponto de sermos obrigados a ceder.

Tenho lutado mês a mês, dia a dia, hora a hora, resistindo a uma pressão constante, incessante, tudo suportando em silêncio, tudo esquecendo, renunciando a mim mesmo, para defender o povo, que agora se queda desamparado. Nada mais vos posso dar, a não ser meu sangue. Se as aves de rapina querem o sangue de alguém, querem continuar sugando o povo brasileiro, eu ofereço em holocausto a minha vida.

Escolho este meio de estar sempre convosco. Quando vos humilharem, sentireis minha alma sofrendo ao vosso lado. Quando a fome bater à vossa porta, sentireis em vosso peito a energia para a luta por vós e vossos filhos. Quando vos vilipendiarem, sentireis no pensamento a força para a reação. Meu sacrifício vos manterá unidos e meu nome será a vossa bandeira de luta. Cada gota de meu sangue será uma chama imortal na vossa consciência e manterá a vibração sagrada para a resistência. Ao ódio respondo com o perdão.

E aos que pensam que me derrotaram respondo com a minha vitória. Era escravo do povo e hoje me liberto para a vida eterna. Mas esse povo de quem fui escravo não mais será escravo de ninguém. Meu sacrifício ficará para sempre em sua alma e meu sangue será o preço do seu resgate. Lutei contra a espoliação do Brasil. Lutei contra a espoliação do povo. Tenho lutado de peito aberto. O ódio, as infâmias, a calúnia não abateram meu ânimo. Eu vos dei a minha vida. Agora vos ofereço a minha morte. Nada receio. Serenamente dou o primeiro passo no caminho da eternidade e saio da vida para entrar na História.

Rio de Janeiro, 23/8/1954
Getúlio Vargas

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Os "mais preparados" analisam as saídas para a crise

Vejam as análises dos tucanos sobre a crise econômica mundial, mais conhecida aqui no Brasil como Marolinha, e observem como eles são "mais preparados". É nas mãos desses caras que está o principal estado do país ao longo dos últimos 16 anos.


segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Por que votarei em Dilma Roussef

Excelente texto de Celso Barros que tive a sorte de ver aqui e aqui.



Os três principais candidatos nessa eleição presidencial são muito bons. A terceira colocada deve ser Marina Silva, e Marina Silva seria melhor presidente que 90% dos presidentes do mundo. Levando em conta só os competitivos, nos últimos dezesseis anos só Garotinho (que a The Economist traduzia como “Little Kid”) avacalhou nosso currículo, onde, na minha modesta opinião, devemos ter orgulho de ostentar Lula e FHC.

Mas é preciso escolher, e, no que se segue, argumentarei que a melhor opção para o Brasil no momento é uma ex-guerrilheira nerd.

1.
Um bom governo, na minha opinião, deve (a) ser democrático, (b) não avacalhar a estabilidade econômica, e (c) combater a pobreza e a desigualdade. Por esses critérios, o governo Lula foi indiscutivelmente bom.

O governo Lula, tanto quanto o governo FHC, foi um governo democrático. Quem lê jornal no Brasil não apenas percebe que é permitido falar mal do governo, mas pode mesmo ser desculpado por suspeitar que falar mal do governo é obrigatório por lei. Os partidos de oposição atuam com plena liberdade, os movimentos sociais, idem, e, aliás, eu também. O Olavo de Carvalho se mandou para os Estados Unidos, dizem que com medo de ser perseguido politicamente, mas, se tiver sido por isso, foi só frescura. De qualquer modo, nunca antes nesse país exportamos tantos Olavos de Carvalho.

A economia foi muito bem gerida durante a Era Lula, a despeito do que falam muitos petistas (talvez preocupados com a falta de oposição competente). Companheiros, deixemos de falar besteira: a política econômica foi um sucesso. Mantivemos o bom sistema de metas de inflação implantado por Armínio Fraga no (bom) segundo governo FHC, e acrescentamos a isso: uma preocupação quase obsessiva por acumular reservas internacionais, a excelente ideia de comprar de volta nossa dívida em dólar, e medidas de incentivo fiscal quando foi necessário. A dívida como proporção do PIB caiu consideravelmente, e só voltou a subir quando foi necessário combater a crise. Certamente voltará a cair já agora.

Por essas e outras, fomos os últimos a entrar e os primeiros a sair da maior crise econômica desde 1929. Os tucanos se consideravam uma espécie de Keynes coletivo por terem sobrevivido à crise do México. Com muito menos custo, sobrevivemos à crise dos EUA. E isso se deu porque a economia durante a Era Lula foi muito mais bem administrada do que durante o primeiro governo FHC. No segundo governo FHC, aí sim, a economia foi bem gerida, e Lula fez muito bem em copiar seus métodos de gestão.

E, na área social, o Lula realmente se destaca na história brasileira, e na conjuntura econômica mundial. FHC não merece nada além de parabéns por ter copiado o Bolsa-Escola do governo petista do Distrito Federal (cujo governador havia idealizado o programa ainda na década de 80), e o PT merece críticas por ter atrasado sua adoção insistindo no confuso “Fome Zero” por tempo demais; mas, uma vez re-estabelecida a sanidade, o programa foi implementado com imenso sucesso, e, associado à política de recuperação do salário mínimo, e à boa gestão da economia, geraram resultados que não estavam nas projeções do mais otimista dos petistas em 2002. Para ser honesto, eu sempre votei no Lula, mas nunca achei que fosse dar tão certo.

A pobreza caiu algo como 43%. Vou dizer com palavras, para não dizerem que sou cabeça-de-planilha: a pobreza no Brasil caiu quase pela metade. Rodrigo Maia, escreva essa frase no quadro cem vezes. Mais de 30 milhões de pessoas (meia França, não muito menos que uma Argentina inteira) subiram às classes ABC. Cortamos a pobreza extrema pela metade (mas ainda é, claro, vergonhoso que tenhamos pobreza extrema). A desigualdade de renda caiu consideravelmente: a renda dos 10% mais ricos cresceu à taxa de 3 e poucos % na Era Lula, enquanto a renda dos mais pobres cresceu mais ou menos 10% ao ano, as famosas taxas chinesas. E tem uns manés que acham que os pobres votam no Lula porque são ignorantes ou mais tolerantes com a corrupção. Dê essas taxas à nossa elite e o Leblon inteiro tatua a cara do Zé Dirceu.

Não é à toa que o economista Marcelo Neri, um dos mais respeitados estudiosos da pobreza no Brasil, fala no período de 2003-2010 como “A Pequena Grande Década”. Tanto quanto sei, Neri não é petista.

Por outro lado, há algumas semanas, o sociólogo Demétrio Magnoli escreveu um balanço crítico do governo Lula, que considera um desastre. O artigo praticamente não tem nenhum número. I rest my case.

2.
Seria idiota dizer que isso não é, em nenhum grau, motivo para votar na Dilma. Dilma participou ativamente disso tudo, e, no mínimo, apoiou isso tudo. Marina Silva, é verdade, apoiou quase tudo isso. José Serra não o fez, e muitos de seus simpatizantes continuam convictos de que os últimos oito anos, em que a renda dos brasileiros mais pobres cresceu no ritmo da economia chinesa, foi uma era das trevas da qual a nossa elite bem pensante (hehehe) acordará em breve, chorando de felicidade porque era só um pesadelo.

Mas, até aí, eu considero que a Era FHC também foi boa para o país, por outros motivos, e mesmo assim foi bom que Lula fosse eleito em 2002 (como irrefutavelmente provado acima). Por que não seria esse o caso, agora?

Em primeiro lugar, porque não acho que será bom para o Brasil se o governo Lula tiver sido só um intervalo. Se Serra ganhar a eleição, eis o que se tornará a versão oficial sobre esse período: uns caras com diploma governavam muito bem o Brasil por muitas décadas, aí surgiu um paraíba muito carismático que acabou % ganhando a eleição, mas não fez nada demais, por isso eventualmente a turma do diploma retomou o controle da coisa toda. Coloquei um sinal de porcentagem no meio da frase para que ela tivesse pelo menos um erro que não fosse também papo furado.

É importante compreender que os novos atores que compõem o PT vieram para ficar, pois são sócios-fundadores de nossa democracia, e que, de agora em diante, o Brasil é um país com uma esquerda que sabe ser governo. Isso quer dizer que agora a direita, para vencer eleições, precisa apresentar boas candidaturas (de preferência sem roubar nossos sociólogos, ou economistas heterodoxos) e, o mais crucial de tudo, apresentar propostas para os mais pobres, que acabam de descobrir que podem melhorar imensamente suas vidas com o voto. A direita brasileira ainda não fez esse trabalho: continua pensando como se fosse um direito natural seu governar o país, e esperando que algum movimento legitimista re-estabeleça a ordem nesta budega.

Enquanto a justiça eleitoral não fizer o voto do Reinaldo Azevedo ter peso 50 milhões, a estratégia de fingir que o governo Lula não desmoralizou os anteriores, diminuindo a pobreza sem desestabilizar a economia, não vai ganhar eleição. Enquanto não tiver um projeto para o país (o que, diga-se, o Plano Real foi), a oposição não merece voltar ao governo. Como o PT dos anos 90, por exemplo, não merecia ganhar a presidência, pois seu programa era o que, no jargão sociológico, era conhecido como “nhenhenhém”. O PT venceu quando reconheceu que o papo agora era outro, e era preciso partir das conquistas já alcançadas. Não há sinal que consciência semelhante exista na oposição como bloco político, embora, sem dúvida, o candidato Serra o tenha compreendido.

3.
Mas esse tampouco é o melhor motivo para se votar na Dilma. O melhor motivo para se votar na Dilma é a Dilma.

Dilma tem uma trajetória política muito singular, como, aliás, tinham FHC e Lula. Quem tiver lido seu perfil recente na revista Piauí pode notar que há tantos fatos interessantes na sua vida que o jornalista mal teve espaço para falar dela, como pessoa. Dilma foi guerrilheira, foi torturada, e, durante a democratização, entrou para o PDT. Quando visitou, recentemente, o túmulo de Tancredo, a turma de sempre reclamou que o PT não o havia apoiado no Colégio Eleitoral. Bem, Dilma, como o PDT, apoiou Tancredo. Eventualmente, foi parar no PT, onde cresceu fulminantemente, e foi beneficiada pela decisão da oposição de queimar um por um dos quadros petistas mais famosos, algo pelo que, suspeito, já começam agora a se arrepender. Estariam pior agora se o candidato do Lula fosse, digamos, o Dirceu?

Tem gente que, com temor ou esperança, acha que Dilma mudará o rumo da economia. Eu posso estar errado, mas, baseado no que vi até agora, acho o seguinte: Dilma está singularmente posicionada para fazer com que, sob essa mesma política econômica, e com o mesmo compromisso com a justiça social, o país comece a crescer bem mais rápido do que cresceu nos últimos dezesseis anos.

Eu gosto de dizer o seguinte sobre política econômica: é verdade, o Banco Central desacelera o crescimento quando mantém os juros altos (e segura a inflação). Mas, a essa altura, o crescimento econômico já levou uma surra; antes de chegar no Banco Central, o carro do crescimento já tomou batidas da nossa falta de política de inovação, da baixíssima capacidade de investimento do Estado, da pobreza (que diminuiu, mas, para nossa vergonha, ainda está aí), do nosso abissal nível de qualificação educacional, dos entraves inacreditáveis para se abrir ou fechar um negócio, dos problemas gravíssimos da nossa urbanização. Essa desacelerada que o Banco Central dá é porque, depois de tomar tanta batida, ou nosso carro desacelera ou ele desmonta na pista.

Nossa visão deve ser a seguinte: queremos ter produção tecnológica como a Índia, mas com muito mais preocupação com a justiça social, e queremos ter o crescimento da China, mas com a mais absoluta democracia e com as garantias ambientais necessárias. Se esses limites nos atrasarem um pouco, paciência, somos, em nossos melhores momentos, um país que leva essas coisas a sério. O que não é admissível é que qualquer coisa que não nossos princípios atrase nosso progresso.

Muita gente diz que Lula entregou a candidatura à Dilma de mão-beijada, mas, aproveito para advertir, muita calma nessa hora, meu povo. Lula também lhe entregou uma roubada incrível, que foi também um teste. Quando Dilma foi colocada na direção do PAC, experimentou em primeira mão o quão ineficiente é nosso Estado como indutor do investimento: uma legião de entraves burocráticos, pressões políticas e uma história de más prioridades tornaram nosso Estado incapaz de investir e de oferecer infra-estrutura (tanto física quanto legal quanto humana) para o investimento privado.

A beleza da coisa é que Dilma é uma c.d.f. obcecada por políticas públicas. Quem leu sua entrevista no livro organizado pelo Marco Aurélio Garcia e pelo Emir Sader não pode ter deixado de se divertir com a diferença entre as coisas que os entrevistadores querem perguntar e as coisas que ela quer responder: os caras lá falando do liberalismo, de não sei o que mais, e ela animadona com um jeito de furar poço de petróleo, com um jeito qualquer de administrar hospital. Respeito muito o Marco Aurélio, que foi meu professor, mas a Dilma sai da entrevista muito melhor que ele e o Sader.

Me anima especialmente que, em vários momentos, tenha visto Dilma puxando o assunto das políticas de inovação. O Brasil não vai dar um salto qualitativo em termos de desenvolvimento enquanto não produzir tecnologia. Tecnologia é o tipo de coisa que depende de bons arranjos entre governo e setor privado, e, a crer nos relatos até agora a respeito de sua passagem pelo ministério de Minas e Energia, Dilma tem uma postura pragmática saudável nessas questões.

Lula deu ao capitalismo brasileiro milhões de novos consumidores, e essa descendência política exigirá de Dilma compromisso forte com a inclusão social. Mas agora é hora de dar ao capitalismo brasileiro a competitividade necessária para que ele gere os empregos de que precisam os novos ex-miseráveis, os formandos do ProUni, ou das novas Universidades Federais, inclusive; é hora de montar um Estado que entregue aos cidadãos as cidades necessárias à boa fruição da vida moderna, e montar um sistema de inovação tecnológica que tire da direita o monopólio do discurso moderno.

Por conhecer melhor do que ninguém o tamanho desse déficit, e pelo que se depreende de sua postura até agora diante desses problemas, Dilma Rousseff é a melhor opção para a presidência do Brasil nos próximos oito anos.

Até porque, contará com um recurso que só o PT tem: uma imprensa tão hostil que o sujeito realmente, realmente tem que prestar atenção para não fazer besteira. Superego é uma coisa útil, senão você trava.

4.
Certo, mas deve ter gente pensando, ah, mas ela é só uma tecnocrata, vai ser engolida pelos políticos (o bom é que essa mesma turma dizia que o Lula, por não ser um tecnocrata, ia ser engolido pelos políticos). Deve ter gente, à direita e à esquerda, com esperança de manipular a Dilma. A Dilma, no caso, é aquela menina que, aos vinte e poucos anos, inspirava respeito até nos caras do Doi-Codi, como se depreende dos documentos da época. Se quiser ir tentar manipular essa dona aí, rapaz, boa sorte, vai lá. Depois você conta pra gente como é que foi.

* Celso Barros, Rio de Janeiro-RJ, é mestre em Sociologia pela Unicamp e doutor em Sociologia por Oxford. Blog: napraticaateoriaeoutra.org

sábado, 31 de julho de 2010

Novo Mundo

Texto de extraído do Blog de Carlos Motta.


Uma revolução silenciosa invade os quatro cantos do país. Sem alarde, toda uma geração trava contato com um mundo antes inacessível - um mundo repleto de maravilhas e surpresas.
Segundo o Comitê Gestor da Internet, 36% das casas brasileiras possuíam pelo menos um computador no ano passado, o que significa um aumento de 30% no número das máquinas em relação a 2008. O mesmo crescimento foi observado com relação ao uso da internet nas residências: de 20% em 2008 para 27% dos domicílios no ano seguinte, o que representa um aumento de 35% no período.
O avanço é avassalador. Ontem, o governo publicou, no "Diário Oficial da União", decreto que regulamenta o Programa Um Computador por Aluno (Prouca) e detalha as regras para compra dos equipamentos, com o Regime Especial de Aquisição de Computadores para Uso Educacional (Recompe). O programa já funciona de forma experimental desde 2008.
A compra será feita por licitação. O decreto prevê que as especificações técnicas dos equipamentos serão definidas pelos ministérios da Educação e da Fazenda, que também poderão determinar preço mínimo e máximo para os computadores. Na última licitação, o preço pago pelo governo por laptop foi R$ 550. De acordo com o MEC, o edital deve ser lançado em até três semanas.
Terão prioridade equipamentos que utilizem software livre e de código aberto, sem custos de licenças. O BNDES vai oferecer uma linha de crédito de R$ 660 milhões para que Estados e municípios comprem os laptops. O Recompe prevê isenção de IPI, PIS/Pasep, Cofins, Imposto de Importação e da Cide para o vencedor da licitação.
Até agora, o governo comprou 150 mil computadores, que devem ser distribuídos a 300 escolas da rede pública até o fim deste ano.
Em pouco tempo, bem menos que se possa supor, os computadores estarão em praticamente todas as residências do país e o uso da internet será generalizado - o Plano Nacional de Banda Larga é outra iniciativa do governo federal que não pode mais ser barrado pelas forças do atraso.
O Brasil cresce de várias maneiras, inclusive na forma de democratizar a informação.


A propósito:
Min. Ayres Brito diz “A liberdade da internet é ainda maior que a liberdade de imprensa" Veja matéria

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Os Anos Lula e as mentiras que pareciam verdades

Os anos Lula serão registrados nos livros de história do Brasil como aquele período em que o país investiu na criação de uma cultura de aprendizagem. O período republicano começado em 1º janeiro de 2003 e prestes a findar em 1º de janeiro de 2011 testemunhou mudanças profundas em nossa forma de entender o Brasil. Passamos a refletir sobre o que é realmente e para que serve o governo federal, o que significa o exercício da presidência da República e também o que quer dizer viver em uma época em que um país cindido teve sua maior confluência, unindo de maneira indivisível o Brasil-Índia com o Brasil-Bélgica. Vivemos novos aprendizados. E destes, compartilho alguns que podem ser aferidos a olho nu. Vejamos:

Aprendemos ao longo do tempo que exercer qualquer cargo na administração pública exigia, no mínimo, certo estofo intelectual, diploma de curso superior na parede, apenas para começo de conversa. Lula tem estofo intelectual, mas não aquele certificado pelo diploma na parede. Na verdade no dia 2 de janeiro de 2003 tinha apenas dois diplomas: o de torneiro mecânico certificado pelo Senac e o de Presidente da República certificado pelo Congresso Nacional Brasileiro.

Aprendemos que nenhuma autoridade guindada pelo voto popular ao posto máximo do país – a Presidência da República – conseguiria sobreviver muito tempo como força política se não contasse com o beneplácito dos formadores de opinião, dos luminares da academia e da classe artística, dos colunistas de plantão nas revistas e jornais de maior tiragem diária e semanal. Lula contrariou isso. É denunciado sistematicamente como embuste pelo príncipe dos sociólogos Fernando Henrique Cardoso, é visto como quem infunde terror à ex-namoradinha do Brasil Regina Duarte, é desancado de forma grosseira por Caetano Veloso, é satanizado semanalmente por colunistas da revista Veja e está bastante longe de contar com o olhar benevolente da Rede Globo de Televisão.

Aprendemos que, com o mundo se tornando aldeia global, e o processo de globalização galopando livre, leve e solto nos campos da iniciativa privada e do neoliberalismo, saber ao menos a língua inglesa seria meio caminho andado para o sucesso. Lula não pode dispensar o tradutor em qualquer conversa com não-nacionais. E seu tradutor não pode ser qualquer um: tem que entender e falar inglês, francês, espanhol, russo, farsi, alemão, italiano, japonês e árabe.

Aprendemos que, havendo a imprensa ocupado o chamado Quarto Poder desde meados do século 19, ninguém poderia ser eleito para cargo público de relevo se não contasse de antemão com o apoio dos mais expressivos e influentes órgãos da imprensa. Lula contrariou essa tese, sempre se elegeu... apesar da imprensa e, em especial, da grande imprensa.

Aprendemos que para bem governar o Presidente deve passar a mão na cabeça da imprensa três vezes ao dia: ao amanhecer, ao meio-dia e ao anoitecer. Do contrário é preparar os nervos para resistir ao milionésimo ataque da fera ao seu governo. Do contrário a imprensa estaria sempre emparedada no círculo vicioso que vitimou do ex-ministro da economia Rubens Ricupero, aquele do indiscreto bordão “o que é bom a gente esconde, o que é ruim a gente divulga”. É oportuno resgatar entrevista à Folha de S. Paulo, de 22/10/2009, em que Lula afirmou: “Eu não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. É informar. (...) Para ser fiscal, tem o Tribunal de Contas da União, a Corregedoria-Geral da República, tem um monte de coisas... a única coisa que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas apenas em seus editoriais”. Exatamente uma semana depois (29/10/2009), discursando em São Paulo para uma plateia formada por catadores de materiais recicláveis, o mesmo Lula criticou o trabalho da imprensa, o que levou o público, estimado em cerca de 3.000 pessoas, a vaiar o grupo de jornalistas que acompanhava o seu discurso.

Naquela ocasião o presidente recomendou que os repórteres não interpretassem para dizer em seguida que “os formadores de opinião já não decidem mais (...) porque o povo não quer mais intermediário. Hoje vocês têm a oportunidade de fazer a matéria da vida de vocês. Se vocês esquecerem a pauta do editor de vocês e se embrenharem no meio dessa gente (...) aproveitem para conversar sobre a vida deles (...) Publiquem apenas o que eles falarem. Não tentem interpretar". Lula, ao receber o prêmio de Brasileiro do Ano da revista IstoÉ, na noite de 7/12/2009, afirmou em discurso de agradecimento que “teria vontade de "se suicidar" se olhasse as manchetes da imprensa...”

Aprendemos que, para um Presidente abordar temas internacionais em geral, política mundial, economia planetária, contatos com Chefes de Estados, relações com as Nações Unidas etc é exigido que este detenha profundo conhecimento de cada tema, expertise diplomática tarimbada por muitos anos no ora carcomido circuito Helena Rubinstein (Londres, Paris, Roma, Washington, Nova York, Moscou e Tóquio) e considerável jogo de cintura para não queimar o filme do país. É fato que, não obstante protestos generalizados, Lula trouxe ao Brasil o controvertido presidente iraniano Mahmud Ahmadinejad e antes deste chegar a Brasília, também estendeu boas-vindas em solo nacional ao não menos polêmicos presidente israelense Shimon Perez e ao chefe da Autoridade Palestina Mahmud Abbas.

Aprendemos que para o país ficar bem na foto teria que se alinhar automaticamente com políticas e agendas formuladas por países como os Estados Unidos, o Reino Unido, a França e o Japão. Lula mudou os figurantes da fotografia. Além de manter boas relações com estas quatro potências, trouxe para seu lado a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, Cuba dos irmãos Castro, e ainda conseguiu liderar com folga os chamados BRICs, que inclui na foto emergentes continentais como China, Índia e Rússia.

Aprendemos que para termos uma economia sólida, funcional e confiável é necessário que o papel do Estado seja mínimo e que o Deus-mercado tem que permanecer intocável, como Zeus em seu ilusório Olimpo. Aprendemos também que política pública que se preze não pode desconsiderar os efeitos benéficos que advêm com as privatizações. Lula contrariou mais este cânone. Ante a crise econômica mundial que se avizinhava partiu pra cima com o discurso que para o Brasil tratava-se de uma “marolinha” e que a crise fora feita “por gente branca, de olhos azuis”. Chamou o FMI e o Banco Mundial aos carretéis e denunciou a jogatina em que se transformara a economia mundial. Não privatizou e vociferou contra algumas desastradas privatizações do passado recente: Sistema Telebrás, Companhia Vale do Rio Doce, Companhia Siderúrgica Nacional etc.

Aprendemos que Presidente da República, Chefe de Estado, não pode descuidar da liturgia que o cargo impõe. Lula mexeu muito com isso. Na maioria dos discursos menciona termos e chavões do futebol, simplifica teorias econômicas com o uso de metáforas futebolísticas, de conversa de compadres. E coloca boné do MST, veste camisa do Corinthians, coloca cocar de índio Kiriri na cabeça, vibra como torcedor apaixonado e sem medo de ser feliz pula, chora, grita e abraça quem está por perto como fez, quando em Copenhague, o Rio de Janeiro foi escolhido para sediar as Olimpíadas de 2016. É a antiliturgia do cargo em ação. É o presidente-mascate a vender produtos brasileiros no exterior. Apenas com a visita do intolerante Ahmadinejad foram firmados 63 acordos internacionais e as exportações brasileiras para o Irã saltarão de US$ 1,2 bilhão para US$ 10,8 bi ao ano.

Aprendemos que presidente da República tem que estar sempre medindo forças com a oposição, demarcando seu território, viabilizando seu governo. Lula inverteu essa lógica. Troca figurinhas com Aécio Neves e com José Serra, demonstra apreço por sua ex-ministra Marina Silva, não responde a Fernando Henrique Cardoso quando este se põe a remoer a inveja com tantas das vitórias do “despreparado” petista. Lula consegue manter, lado a lado, na defesa de seu governo políticos antípodas como Jacques Wagner e Geddel Vieira Lima, José Sarney e Michel Temer, Fernando Collor e Renan Calheiros, Ana Julia Carepa e Jader Barbalho, Sérgio Cabral e o casal Garotinho. Mesmo fazendo essa exótica e bem-sucedida engenharia política Lula não pode nos apresentar qualquer diploma de conclusão de curso de ciência política, de história das instituições políticas brasileiras, de sociologia política. Em matéria de ostentação de diplomas acadêmicos é nada mais que um rotundo fracasso.

Aprendemos que para ser um bom Presidente da República há que se fiar muito na competência e na formação adquirida ao longo da vida. Há que confiar muito na experiência e tarimba conseguidas através do exercício de cargos executivos, de preferência, começando como prefeito, passando a governador e de lá a presidente. Se no meio tempo tiver sido deputado estadual, senador... ainda melhor. Pois bem, Lula contrariou tudo isso. Nunca foi prefeito e muito menos governador. Só foi eleito para a Câmara dos Deputados. E como Deputado Federal causou estupefação com aquela famosa frase depois adotada pela MPB: “o Congresso Nacional abriga 300 picaretas”. Sua competência só podia ser mensurada pela passagem na diretoria do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Em ambiente tão improvável ele criou um partido político, formou lideranças populares, liderou conglomerado de siglas partidárias, perdeu três eleições para Presidente (1989/1994/1998) e se elegeu presidente duas vezes (2002/2006). Lula provou que ter sorte é mais que mero acaso.

Em seu governo viu a autosuficiência do país em petróleo; descobriu extensas reservas do ouro negro no Pré-Sal; trouxe para o Brasil a Copa do Mundo de Futebol 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016; autorizou o Tesouro Nacional a emprestar US$ 10 bi ao FMI; criou e gerenciou o maior programa mundial de distribuição de renda – o Bolsa-Família; está colocando uma pá de cal sobre a indústria da Seca que mantinha os Estados nordestinos à mercê dos coronéis com o avanço das obras de transposição do rio São Francisco.

Em meio a tudo isso, há menos de 48 horas, Lula pode deitar a cabeça no travesseiro com a notícia da Pesquisa Ibope dando conta que era bem avaliado por estupendos 78% da população brasileira. Sui generis. Esse novo recorde é certificado por nada menos que o Instituto de Pesquisa Datafolha, do jornal Folha de S.Paulo. Nesta pesquisa, 17% consideram seu governo “regular” e apenas 4% consideraram o governo “ruim/pésssimo”.

Faço o destaque porque parece ser recorrente que os números do Datafolha, ao menos nesta eleição presidencial 2010 tendem a sistematicamente contrariar os resultados de seus congêneres Ibope, Sensus e Vox Populi. Curiosamente os congêneres são contrariados porque vêm apresentando o crescimento “sustentado” da candidata governista e o refluir de votos do candidato oposicionista, nestes últimos Institutos a taxa de rejeição da candidata reflui e a do candidato oposicionista aumenta e assim por diante. Não precisamos ser futurólogos para perceber que três institutos de pesquisas mostrarão nas próximas semanas números robustos dando conta da transferência da popularidade presidencial para sua candidata. E, no encalço destas, saberemos que o contraponto ficará por conta do Datafolha, diminuindo a “transferência”, invertendo as inflexões das curvas estatísticas... até que, cansados, oferecerão um vistoso cavalo-de-pau que, como meio de arrumação matemática, conformarão seus números com os demais. Uma coisa é certa: seja quem for eleito em 3 de outubro de 2010 para governar o Brasil a academia deverá dedicar seus esforços para entender os misteriosos mecanismos que regem alguns de nossos institutos de opinião pública.

A trajetória de Luiz Inácio Lula da Silva é em si mesma, um vigoroso libelo contra algumas mentiras que parecem verdades. Lula é o brasileiro que mais vezes se candidatou à presidência da República do Brasil, sendo candidato a presidente cinco vezes. Curioso constatar que em 2006 ultrapassou Rui Barbosa, que se candidatou quatro vezes. Pois bem, de tanto ouvirmos as mentiras chegamos a pensar que eram verdades. E assim, gerações após geração de brasileiros descobriram outro Brasil possível. Aprendemos a ver sentido na expressão “nunca antes na história deste país” porque Lula vestiu estas palavras com novos significados. Queiramos ou não foi o que aconteceu.


Matéria de Washington Araújo publicada na Carta Maior

domingo, 20 de junho de 2010

Massa assina "cláusula Barrichello"!

Comentário de PHA sobre a suposta "cláusula Barrichello" incluída no novo contrato de Massa com a Ferrari:

"O Departamento Comercial da Globo conseguiu fazer do Brasil o país do mundo que mais leva a sério a F1.
É uma das contribuições do Brasil à Civilização Ocidental.
E mesmo diante da constatação de que, há muito tempo, não há um único piloto brasileiro que preste.
Se essa informação for verdadeira – e pode ser falsa – o parvo espectador brasileiro estará diante de um dominical embuste: assistir a uma “competição” que brasileiro não pode vencer.
Melhor do que isso, só o Galvão, a máquina bombástica de lugar comum, segundo o New York Times.

O Galvão a irradiar a F1 !"

Leia matéria completa do blog de Paulo Henrique Amorim,Conversa Afiada

Os Laranjas Verdes



Visto no Blog do Saraiva

sábado, 5 de junho de 2010

Prostituição. Você vê por aqui!

Operação harém - a fábrica de dossiês
por Laerte Braga

Detalhes de uma operação da Polícia Federal revelando um esquema de prostituição entre dançarinas, atrizes e aliciadores no meio televisivo foram divulgados nesta semana por alguns veículos da mídia. A notícia fala em “programas” que chegam a custar 20 mil reais, mais as despesas em caso de viagens. A FOLHA DE SÃO PAULO chegou a publicar extensa matéria sobre o assunto em sua edição de domingo, 30 de maio.
Sem qualquer ironia, Geraldo Jonk, no interior do Mato Grosso ouviu um barulho estranho durante uma pescaria em família e não pensou duas vezes. Pegou sua espingarda e disparou. Matou Edersila Jonk, sua mulher. A explicação foi singela. Pensou que o barulho fosse de onça.
O esquema desmontado pela Polícia Federal envolve modelos, dançarinas e atrizes. A operação envolve dois aliciadores, até agora os nomes públicos, foi descoberta através de escutas e tinha o nome de “FAMOSAS DA TEVÊ”. Muitas delas capas de revistas. A PF dispõe dos nomes dos clientes. Políticos, empresários e jogadores de futebol. Uma famosa assistente de palco de uma emissora de tevê, numa das conversas, relata que ganhou 10 mil reais num programa.
Uma das ligações mostra um governador interessado numa das “mercadorias”, uma dançarina de um programa. Não foi atendido, pois a moça, naquele momento estava namorando um “playboyzinho”. Outras opções lhe foram oferecidas.
As investigações indicam que as mulheres mais famosas exigem programas em hotéis de alto luxo, determinam a posição da relação sexual para o “negócio.” Um resort na República Dominicana chegou a criar um manual de conduta para as brasileiras que freqüentam o local.
Collor de Mello, quando presidente, fez saber a um figurão da GLOBO que tinha interesse em um “programa” com determinada atriz, à época em voga, estrelando novelas e outras coisas mais. A moça a princípio resistiu, depois aceitou. Encontraram-se num helicóptero da FAB em Brasília.
Sérgio Naya era um dos clientes mais assíduos das “meninas da GLOBO”. Como tinha um hotel em Miami o custo para ele era mais baixo. Num desentendimento de outros “negócios” com a rede, entrou em desgraça e quando da queda de edifícios de sua empreiteira foi fustigado pela rede todos os dias durante algum tempo. É que deixara umas faturas em aberto. Não fora isso era bem capaz do JORNAL NACIONAL atribuir a culpa ao vento e VEJA sair com capa dizendo que “os pedreiros foram os culpados”.
De um modo geral a GLOBO coloca nas primeiras filas dos programas de auditórios candidatas a atrizes ou a dançarinas. Quando se negam a aceitar intermediar um “negócio” qualquer com um cliente em potencial não voltam mais. É claro que isso não está escrito em nenhum contrato, mas qualquer empresário FIESP/DASLU sabe disso.
Ascensões rápidas na rede costumam ser sinal de aquiescência ao esquema. Claro e óbvio que a rede usa laranjas. Mas um negócio que rende 20 mil reais a uma dançarina, ou a uma modelo, ou a uma ex BBB (uma delas estava com cachê de liquidação, dois mil reais), pode resultar num contrato publicitário com a rede de milhões. Depende de deixar o cliente potencial em estado de graça.
Quando a GLOBO foi buscar Xuxa na extinta MANCHETE, a apresentadora declarou a jornalistas que deixava a antiga emissora com pesar. Tinha, segundo ela, um carinho muito grande por Adolfo Bloch, que a colocava no colo todas as vezes que iam renovar o contrato.
Xuxa foi uma espécie de ministra da educação de uma pelo menos geração de crianças brasileiras. Ana Maria Braga deve fazer um esforço tremendo para conseguir andar em duas pernas, a tendência é cair de quatro e vende a donas de casa da ideologia da cozinha todas as manhãs.
É desnecessário falar do Big Brother Brasil. Só o registro que é um programa mundial, apresentado em vários países e que na Colômbia, por exemplo, numa de suas edições, teve participação do presidente/traficante Álvaro Uribe.
Inventaram a profissão de ex-BBB.
A queda na circulação dos chamados grandes jornais, das revistas nacionais ensejou o aparecimento de jornais de segunda categoria onde a capa é sempre um “objeto” mulher e os títulos retratam o modelo, como há dias num desses, na primeira página – “Poliça invade a Coréia e deixa nove na horizontal”. A glorificação do BOPE, a estupidez oficializada, qualquer que seja o nome que tenha, nos vários estados brasileiros, a violência somada a baixaria.
Simone de Beuvoir não falou da condição da mulher imaginando que o capitalismo fosse se apropriar desse espírito de liberdade que é inerente ao sujeito, ao ser e se atira na percepção do outro à idéia de um mundo construído no amor e no respeito primeiro por si, para que se possa conhecer o outro. Huxley fala nisso também.
Nem Celso Furtado diagnosticou e definiu a chamada revolução feminista como “a mais importante revolução do século XX”, supondo que tudo poderia vir a terminar em mulher melancia, mulher melão, miss laje, vai por aí afora.
O preço do segundo no horário nobre é dos mais altos.
Imagino que os “negócios” da GLOBO e outras incluam caixas de sabão OMO, o que lava mais branco. E daquele que tira todas as manchas e de quebra perfuma o ambiente. É mais inteligente que você. Capaz de tirar a moça do caixa do pedágio e transformá-la em mercadoria do perfume da natureza destruída na sanha insana do capitalismo.
Para quem opera assim, distorcer fatos, mentir, inventar histórias, criar notícias segundo as conveniências dos seus clientes, de permeio as moças, é o de menos. Atribuir dossiês falsos a adversários políticos então é barbada. É prática da rede. Tem especialistas no assunto e quando precisa compra no mercado os melhores do ramo.
Foi dessa forma que arrancaram, em 2002, 250 milhões de dólares do governo FHC e jogaram Roseana Sarney na arena dos leões depois de incensar a moça como candidata presidencial e fabricar pesquisas no IBOPE. Foi esse e a emenda que permite a participação de capital estrangeiro em redes de rádios e tevês o preço do apoio, àquela época, a José Arruda Serra.
O portal GLOBO.COM é um dos exemplos mais precisos dessa maneira predadora de tratar o ser humano, sobretudo o ser mulher. Vende como manchete situações de novelas em que importante é o sucesso, os caminhos pouco importam, não deixam marcas, existe OMO. Vende alienação
São quadrilhas sofisticadas e não diferem dos traficantes comuns que aliciam meninas pobres para vendê-las em capitais européias. Só na hipocrisia.
É a “sociedade do espetáculo” em que o ser é mercadoria. Um desvario de Susana Vieira reclamando das condições do hotel numa determinada cidade do Nordeste vira manchete. “Não estou acostumada a isso, gosto de conforto”.
O jornalista Luís Nassif mostrou em artigo em seu portal que o tal dossiê atribuído a Dilma Roussef e que mostra Arruda Serra imerso em corrupção familiar foi feito por um jornalista do ESTADO DE MINAS, a pedido do ex-governador Aécio Neves, na troca de chumbo que precedeu a indicação de Arruda Serra como candidato tucano. Aécio tomou conhecimento que Arruda Serra estava levantando fatos de sua vida pessoal e providenciou a contra ofensiva. Um jornal diz até que o dossiê montado pelo jornalista mineiro vai virar livro.
Nassif pulou fora do barco corrupto e venal da mídia prostituta e prostituída, prostituidora. Resta como um personagem do filme de François Truffault, no célebre romance de Ray Bradbury, FARENHEIT 451. Migrou para a floresta onde guarda em sua alma o jornalismo decente e inteligente da coragem e da dignidade que por algum tempo habitou a mídia deste e de outros países.
A nota na coluna do jornalista Juca Kfoury sobre um tapa que Aécio teria dado em sua namorada num hotel no Rio, foi encomendada e serviu de alerta para o mineiro. Kfoury nas horas que não está atazanando Ricardo Teixeira (um santo perto dele) está a serviço de Arruda Serra.
Arruda Serra leu a nota antes de sua publicação, tudo combinadinho, acertadinho e pago, lógico.
VEJA e GLOBO fazem parte do esquema, isso é fora de qualquer dúvida. A GLOBO é antes de mais nada o grande bordel tecnológico do País.
É só lembrar que o JORNAL NACIONAL, o da mentira, nas eleições de 2006 deixou de noticiar o acidente com um avião da GOL e centenas de mortos (que já fora noticiado por seus concorrentes), para não distrair o telespectador do dossiê fabricado contra Lula e cujo objetivo era levar as eleições para o segundo turno e tentar derrotar o petista.
A caravana da cidadania do mesmo JORNAL NACIONAL cumpria esse papel também. Como aquele anúncio dos 45 anos da rede. Roberto Requião chamou Bial de mentiroso, Miriam Leitão de leviana e ambos assentaram em cima. Retrucar como? O governador estava falando a verdade.
Quase meio século de bandalheiras.
Esse esquema que a Polícia Federal chama de Operação Harém existe desde os primórdios da GLOBO. Está incorporado ao espírito da rede, é bem o retrato do caráter do grupo que a controla.
Ou da falta de caráter.
A ex-ministra já exigiu de José Arruda Serra provas que teria partido dela o dossiê e Nassif já mostrou que tudo não passou de troca de amabilidades entre tucanos, o próprio Arruda Serra e Aécio Neves.
E Arruda Serra quer Aécio para vice.
Isso é só o começo. Vem mais por aí. Quadrilhas como GLOBO, PSDB, DEM, PPS, VEJA, não são de jogar a toalha por um motivo simples. Vivem de extorsão, vivem de chantagens, vivem de iludir e enganar as pessoas (ouvintes, leitores, telespectadores).
O programa SEM FRONTEIRAS, da GLOBONEWS na manhã de sexta-feira, apresentado por Sílio Boccanera (nome de pirata, bem de acordo) critica a decisão de grupos pacifistas de protestar contra o cerco a Gaza (crianças morrem de fome diariamente), perguntando por que os pacifistas não entregaram os alimentos, os medicamentos e o material escolar ao governo terrorista de Israel para que ele fizesse a doação aos palestinos?
Ora, Gaza é terra palestina, os sionistas teriam roubado as doações, como roubam terras, água, saqueiam propriedades, destroem, prendem, torturam, estupram, matam, constroem muros. Em nenhum momento o jornalista (ou pirata israelense, a soldo de Israel?) falou em violência, nos assassinados pelos soldados terroristas de Israel. Para ele houve uma provocação, só isso.
Com certeza o produto desse negócio é bem maior que um programa com atriz, dançarina ou modelo. Muito mais que 20 mil. E o manual de condutas é elaborado em Washington ou Tel Aviv, pela organização EUA/ISRAEL TERRORISMO S/A.
Ah! Um detalhe final. A atriz que esteve com Collor vivendo emoções num helicóptero disse depois que o “cara é estranhésimo, tem cada gosto”.
É o modelo ou a nova ordem econômica como chamam. A globalização. A sociedade democrática, cristã e tudo em nome da liberdade de expressão. E William Bonner faz aquela cara de sério, dramático, porta-voz da verdade. E tripudia sobre o Homer Simpson, como chama de forma depreciativa –idiotas – os telespectadores do JORNAL NACIONAL, o da mentira. Pergunta quem quer um bom dia, ou deixa que a turma decida a cor da gravata que vai usar.
Bem que Aldous Huxley diz que a cor tem uma transcendência bem maior, que a percepção “reguladora” do cérebro. Mas a de Bonner é para ludibriar.
A culpa? Ora, alguém tem dúvida? É do Irã. Ou de Chávez.. Dos que desejam a paz e denunciam a barbárie, como agora, no ataque sionista/terrorista a navios de paz e na suposta ingenuidade do repórter da GLOBONEWS, como se sionistas fossem entregar alguma coisa.
A expressão “assassinos” usada pela brasileira Iara Lee para retratar os soldados de Israel se aplica aos donos desses haréns. Não se mata só com tiros.
“E as pessoas se curvaram e rezaram para o Deus de neon que elas criaram”. Verso de Paul Simon em THE SOUND OF SILENCE.

*Laerte Braga é jornalista. Nascido em Juiz de Fora, onde mora até hoje, trabalhou no “Estado de Minas” e no “Diário Mercantil”. É colaborador do blog Quem tem medo do Lula?.