quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

As Malvinas são argentinas



Texto extraído do blog do Chico Barreira

China confirma apoio à Argentina nas Malvinas. EUA sobem no muro.

A imprensa inglesa já comenta, preocupada, que os Estados Unidos já não defendem, com a mesma firmeza, a posse da Inglaterra sobre as Malvinas. Ao mesmo tempo, o governo britânico lamenta e estranha a recente decisão dos países membros do Mercosul de impedir a atracação, em seus portos, de navios de Sua Majestade com destino às ilhas.
Ao mesmo tempo, no fim da semana passada, o vice-presidente da Assembléia Popular da China, o equivalente aos legislativos das democracias ocidentais, reafirmou em Buenos Aires a oposição de seu pais a favor da reivindicação argentina sobre as Malvinas.
A posição dos países membros do Mercosul, confirma e fortalece a atitude que já havia sido tomada pelo Brasil e pelo Uruguai. Quanto à “flexibilização” da diplomacia norte-americana em relação às Malvinas, isso se deve, provavelmente, ao fato de Washington não querer ficar em situação de isolamento em relação aos países da América do Sul que, não faz muito tempo, eram considerados mera extensão de seu quintal.
São novos e bons tempos de unidade e afirmação do nosso Continente (a Pátria Grande) e sobretudo é o tempo de dar um basta a qualquer resquício de colonialismo. Não importam as filigranas jurídicas ou diplomáticas. O fato político de valor tanto concreto como simbólico é o de que as Malvinas representam este resíduo maligno.
E tudo isso adquire sentido ainda mais concreto e prático, quando se sabe que o mar em torno das Malvinas esconde jazidas de petróleo, possivelmentemente tão grande quanto às do pré-sal brasileiro.
Os ingleses sempre se negaram, arrogantemente, a sentarem-se à mesa de negociações ou a permitir que a questão fosse levada à ONU, contando para isso com seu poder de veto (colonialista) no Conselho de Segurança da organização.
Mas, como dizíamos, os tempos são outros, onde o Brasil, o ex-primo pobre e trapalhão, acaba de suplantar o BIP da Inglaterra. Só ainda não viram isso, a mídia nacional calhorda e incompetente, bem como a parte de seus leitores que ela consegue alienar e imbecilizar, a ponto de eles não conseguirem se libertar do velho complexo de vira-latas.

domingo, 13 de novembro de 2011

Chevron contamina meio-ambiente e "velha mídia" não dá a devida atenção.

Como a informação é de grande relevância, resolvi, por minha conta e risco e sem consultar o autor, aglutinar dez tweets do grande @stanleyburburin e que resultou no texto abaixo:


"Lembra que o Wikileaks publicou um telegrama da embaixada dos EUA no Brasil sobre um encontro entre representantes de petroleiras internacionais? Esse encontro aconteceu antes das eleições de 2010.

Reclamavam de serem sido excluídas do pré-sal pelo Lula.

Segundo o telegrama, a representante da Chevron disse que teve uma conversa com Serra que prometeu mudar a legislação para favorecer as petroleiras internacionais para que também explorassem o pré-sal.

O que está acontecendo no vazamento de óleo junto ao poço da Chevron, no Campo de Frade, ao largo do Rio de Janeiro tornou-se, como ontem determinou a presidenta Dilma Rousseff, um caso de investigação e de duras providências.

A história tem muitos pontos estranhos. Dilma mandou investigar. Existe a suspeita de que a Chevron estava explorando o pré-sal clandestinamente.

"Acidente ao lado do “motel marinho” da Chevron" - texto do Deputado Brizola Neto. Leia e divulgue."

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O vocabulerolero da velha mídia

Aqui algumas indicações sobre como ler a velha mídia. Nada do que é dito vale pelo seu valor de face. Tudo remete a um significado, cuja arte é tratar de camuflá-lo bem.

Por exemplo, quando dizem liberdade de imprensa, querem liberdade de empresa, das suas empresas, de dizerem, pelo poder da propriedade que tem, de dizer o que pensam.

A chave está em fazer passar o que pensam pelo interesse geral, pelas necessidades do país. Daí que nunca fazem o que deveriam fazer. Isto e’, dizer, por exemplo: “A família Frias acha que...” Ou: “A família Civita acha que...” e assim por diante.

A arte da manipulação reside em construções em que os sujeitos (eles) ficam ocultos. Usam formulas como: “É mister”, “Faz-se necessário”, “É fundamental”, “É’ indispensável”.

Sempre cabe a pergunta: Quem, cara pálida? Eles, os donos da empresa. Sempre tentar passar a ideia de que falam em nome do país, do Brasil, da comunidade, de todos, quando falam em nome deles. A definição mais precisa de ideologia: fazer passar interesses particulares pelos interesses gerais.

Quando dizem “fazer a lição de casa”, querem dizer, fazer duro ajuste fiscal. Quando falam de “populismo”, querem dizer governo que prioriza interesses populares. Quando falam de “demagogia”, se referem a discursos que desmascaram os interesses das elites, que tratam de ocultar.

Quando falam de “liberdade de expressão”, estão falando no direito deles, famílias proprietárias das empresas monopolistas da mídia, dizerem o que bem entendem. Confundem liberdade de imprensa com liberdade de empresas – as deles.

No Vocabulerolero indispensável para entender o que a mídia expressa de maneira cifrada, é preciso entender que quando falam de “governo responsável”, é aquele que prioriza o combate à inflação, às custas das políticas sociais. Quando falam de “clientelismo”, se referem às politicas sociais dos governos.

Quando falam de “líder carismático”, querem desqualificar os discursos os lideres populares, que falam diretamente ao povo sobre seus interesses.

Quando falam de “terrorismo”, se referem aos que combatem ou resistem a ações norte-americanas. “Sociedades livres” são as de “livre mercado”. Democráticos sao os países ocidentais que tem eleições periódicas, separação dos três poderes, variedade de siglas de partidos e "imprensa livre", isto é, imprensa privada.

“Democrático” é o pais aliado dos EUA – berço da democracia. Totalitário é o inimigo dos EUA.

Quando dizem “Basta” ou “Cansei”, querem dizer que eles não aguentam mais medidas populares e democráticas que afetam seus interesses e os seus valores.

Entre a velha mídia e a realidade se interpõe uma grossa camada de mecanismos ideológicos, com os quais tentam passar seus interesses particulares como se fossem interesses gerais. É o melhor exemplo do que Marx chamava de ideologia: valores e concepções particulares que pretendem promover-se a interesses da totalidade. Para isso se valem de categorias enganosas, que é preciso desmistificar cotidianamente, para que possamos enxergar a realidade como ela é.

Postado por Emir Sader às 09:02 de 19/10/11 no Blog do Emir

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Crise no ninho de ratos!


Matéria publicada em 12-8-11 na aba Constituinte Já do blog do Chico Barreira

A rebelião dos ratos

Só para recordar, vamos reproduzir os três primeiros parágrafos de matéria da Veja, de junho de 1997:

“Quatro meses depois de fazer bonito na reeleição, em que entregou dezenove votos para ajudar o governo a aprovar a emenda que permitirá a Fernando Henrique Cardoso disputar um segundo mandato em 1998, o governador Amazonino Mendes, do Amazonas, transformou-se numa pororoca de escândalos.

Há duas semanas, ele apareceu como homem da mala no balcão da reeleição, apontado por dois ex-deputados que venderam seus votos por 200.000 reais. Na semana passada, o governador foi acusado de outro crime — ser o verdadeiro dono de uma das empreiteiras mais ativas do Amazonas, a Econcel, que, fundada há cinco anos, faturou mais de 50 milhões de reais em duas dezenas de obras públicas no Estado.

Caso a denúncia seja comprovada, Amazonino Mendes terá assegurado um lugar inovador na história da corrupção brasileira. Não é o clássico caso do político que promove concorrências fraudadas para beneficiar empreiteiros, recebendo uma comissão em troca. O governador faz obras públicas em benefício próprio, sem intermediários”.

A Ratoeira Mor

Nos anos 80 do século passado, o ex-presidente Lula desistiu de reeleger-se para a Câmara dos Deputados, dizendo que o Congresso era dominado por 400 picaretas. O “Mensalão do PT” revelado em junho 2005 pelo corrupto confesso Roberto Jefferson e até hoje presidente PTB, era mera cópia, utilizando-se inclusive do mesmo agente intermediário (Marcos Valério, um bandido que deu origem à palavra valerioduto) do “Mensalão Tucano” ocorrido em 1998, na eleição do governador mineiro Eduardo Azeredo (PSDB).

Em 2002, o então governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), que sofria um processo de impeachment, acusado de corrupção, filmou deputados da Oposição, no momento em que pediam 50 mil reais para não votar contra ele.

O “Mensalão do DEM” que culminou com a destituição e prisão do governador José Roberto Arruda, do Distrito Federal, que já estava escalado para ser o vice de José Serra, ainda está vivo na memória de todos.

Nos últimos dois anos, em dezenas de municípios brasileiros, prefeitos e vereadores foram destituídos e presos pelo fato simples de serem ladrões do Erário Público. Na verdade, eles representam e sintetizam a regra (e não a exceção que eventualmente torna-se pública) do comportamento padrão da classe política brasileira, na capilaridade dos quase seis mil municípios.

É essa massa que vai ascendendo, que vai sendo condensada, aprimorada, até transformar-se na nata que controla o Congresso Nacional, nossa Ratoeira Mor.

Tudo isso para dizer que só um imbecil não sabe que o Congresso Nacional é controlado por esses ratos e que ninguém consegue governar este País se, literalmente, não comprá-los. E é certo que eles não querem apenas cargos no governo. Querem usar esses cargos para roubar.

Atualmente eles estão rebelados e têm como principal intermediário (intérprete) junto ao governo, o impoluto e insuperável vice-presidente Michel Temer, para quem não há crise e “tudo isso é muito natural”. E são tão descarados esses ratos que fazem duas reivindicações paralelas e concomitantes: mais cargos e silêncio ou tolerância sobre as roubalheiras. É isto que está implícito na chantagem que movem atualmente contra o governo, ameaçando não votar matérias de interesse do Planalto ou do simples interesse público.

Movida pelas circunstâncias, mordida pela consciência ou motivada pela tentação da popularidade (só Deus saberá dizer), a presidenta Dilma resolveu ser ou parecer que é a mulher que poderá dar um basta nisso tudo. Por isso, a Oposição e a mídia, aturdidas, não sabem para onde apontar suas baterias.

Mas é claro como água da fonte que Dilma não vai dar um basta em coisa nenhuma. Tudo o que ela vai arrumar se realmente endurecer o jogo é uma baita crise institucional. Será declarada a ingovernabilidade.

Ao PT se ainda lhe restar um mínimo do pudor e do ideal que lhe deram origem, caberia mobilizar a militância, sindicatos e outras organizações sociais, para exigir a convocação de uma Constituinte, montada nas costas da popularidade ainda pulsante de Lula. A Constituinte poderia limpar ainda que parcialmente a Ratoeira Mor. Pelo menos seria um pouco mais eficiente que a piegas campanha da Ficha Limpa.

De quebra, poderiam ser conquistados importantes avanços sociais. Mas, cá entre nós, não vejo disposição de ânimo para que os petistas façam isso. Eles já amoldaram seus traseiros às poltronas fofas do poder.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Maria Antonieta

Vi este texto inicialmente no Esquerdopata e resolvi publicá-lo também no meu blog para conferirmos no futuro.

VLADIMIR SAFATLE


Maria Antonieta

Em 2006, a cineasta Sofia Coppola lançou um filme sobre Maria Antonieta. Ao contar a história da rainha juvenil que vivia de festa em festa enquanto o mundo desabava em silêncio, Coppola acabou por falar de sua própria geração.
Esta mesma que cresceu nos anos 1990.
No filme, há uma cena premonitória sobre nosso destino. Após acompanharmos a jovem Maria por festas que duravam até a manhã com trilhas de Siouxsie and the Ban- shees, depois de vermos sua felicidade pela descoberta do "glamour" do consumo conspícuo, algo estranho ocorre.
Maria Antonieta está agora em um balcão diante de uma massa que nunca aparece, da qual apenas ouvimos os gritos confusos. Uma massa sem representação, mas que agora clama por sua cabeça.
Maria Antonieta está diante do que não deveria ter lugar no filme, ou seja, da Revolução Francesa. Essa massa sem rosto e lugar é normalmente quem faz a história. Ela não estava nas raves, não entrou em nenhuma concept store para procurar o tênis mais stylish.
Porém ela tem a força de, com seus gritos surdos, fazer todo esse mundo desabar.
Talvez valha a pena lembrar disso agora porque quem cresceu nos anos 1990 foi doutrinado para repetir compulsivamente que tal massa não existia mais, que seus gritos nunca seriam mais ouvidos, que estávamos seguros entre uma rave, uma escapada em uma concept store e um emprego de "criativo" na publicidade.
Para quem cresceu com tal ideia na cabeça, é difícil entender o que 400 mil pessoas fazem nas ruas de Santiago, o que 300 mil pessoas gritam atualmente em Tel Aviv.
Por trás de palavras de ordem como "educação pública de qualidade e gratuita", "nós queremos justiça social e um Estado-providência", "democracia real" ou o impressionante "aqui é o Egito" ouvido (vejam só) em Israel, eles dizem simplesmente: o mundo que conhecemos acabou.
Enganam-se aqueles que veem em tais palavras apenas a nostalgia de um Estado de bem-estar social que morreu exatamente na passagem dos anos 1980 para 1990.
Essas milhares de pessoas dizem algo muito mais irrepresentável, a saber, todas as respostas são de novo possíveis, nada tem a garantia de que ficará de pé, estamos dispostos a experimentar algo que ainda não tem nome.
Nessas horas, vale a lição de Maria Antonieta: aqueles que não percebem o fim de um mundo são destruídos com ele. Há momentos na história em que tudo parece acontecer de maneira muito acelerada.
Já temos sinais demais de que nosso presente caminha nessa direção. Nada pior do que continuar a agir como se nada de decisivo e novo estivesse acontecendo.

VLADIMIR SAFATLE escreve às terças-feiras nesta coluna.

terça-feira, 5 de julho de 2011

É preciso ter vergonha na cara para ser educador.

Artigo extraído do Blog da Professora Amanda.

Porque não aceitei o prêmio do PNBE

Oi,
Nesta segunda,o Pensamento Nacional de Bases Empresariais (PNBE) vai entregar o prêmio "Brasileiros de Valor 2011". O júri me escolheu, mas, depois de analisar um pouco, decidi recusar o prêmio.
Mandei essa carta aí embaixo para a organização, agradecendo e expondo os motivos pelos quais não iria receber a premiação. Minha luta é outra.
Espero que a carta sirva para debatermos a privatização do ensino e o papel de organizações e campanhas que se dizem "amigas da escola".

Amanda


Natal, 2 de julho de 2011

Prezado júri do 19º Prêmio PNBE,

Recebi comunicado notificando que este júri decidiu conferir-me o prêmio de 2011 na categoria Educador de Valor, “pela relevante posição a favor da dignidade humana e o amor a educação”. A premiação é importante reconhecimento do movimento reivindicativo dos professores, de seu papel central no processo educativo e na vida de nosso país. A dramática situação na qual se encontra hoje a escola brasileira tem acarretado uma inédita desvalorização do trabalho docente. Os salários aviltantes, as péssimas condições de trabalho, as absurdas exigências por parte das secretarias e do Ministério da Educação fazem com que seja cada vez maior o número de professores talentosos que após um curto e angustiante período de exercício da docência exonera-se em busca de melhores condições de vida e trabalho.

Embora exista desde 1994 esta é a primeira vez que esse prêmio é destinado a uma professora comprometida com o movimento reivindicativo de sua categoria. Evidenciando suas prioridades, esse mesmo prêmio foi antes de mim destinado à Fundação Bradesco, à Fundação Victor Civita (editora Abril), ao Canal Futura (mantido pela Rede Globo) e a empresários da educação. Em categorias diferentes também foram agraciadas com ele corporações como Banco Itaú, Embraer, Natura Cosméticos, McDonald's, Brasil Telecon e Casas Bahia, bem como a políticos tradicionais como Fernando Henrique Cardoso, Pedro Simon, Gabriel Chalita e Marina Silva.

A minha luta é muito diferente dessas instituições, empresas e personalidades. Minha luta é igual a de milhares de professores da rede pública. É um combate pelo ensino público, gratuito e de qualidade, pela valorização do trabalho docente e para que 10% do Produto Interno Bruto seja destinado imediatamente para a educação. Os pressupostos dessa luta são diametralmente diferentes daqueles que norteiam o PNBE. Entidade empresarial fundada no final da década de 1980, esta manteve sempre seu compromisso com a economia de mercado. Assim como o movimento dos professores sou contrária à mercantilização do ensino e ao modelo empreendedorista defendido pelo PNBE. A educação não é uma mercadoria, mas um direito inalienável de todo ser humano. Ela não é uma atividade que possa ser gerenciada por meio de um modelo empresarial, mas um bem público que deve ser administrado de modo eficiente e sem perder de vista sua finalidade.

Oponho-me à privatização da educação, às parcerias empresa-escola e às chamadas “organizações da sociedade civil de interesse público” (Oscips), utilizadas para desobrigar o Estado de seu dever para com o ensino público. Defendo que 10% do PIB seja destinado exclusivamente para instituições educacionais estatais e gratuitas. Não quero que nenhum centavo seja dirigido para organizações que se autodenominam amigas ou parceiras da escola, mas que encaram estas apenas como uma oportunidade de marketing ou, simplesmente, de negócios e desoneração fiscal.

Por essa razão, não posso aceitar esse Prêmio. Aceitá-lo significaria renunciar a tudo por que tenho lutado desde 2001, quando ingressei em uma Universidade pública, que era gradativamente privatizada, muito embora somente dez anos depois, por força da internet, a minha voz tenha sido ouvida, ecoando a voz de milhões de trabalhadores e estudantes do Brasil inteiro que hoje compartilham comigo suas angústias históricas. Prefiro, então, recusá-lo e ficar com meus ideais, ao lado de meus companheiros e longe dos empresários da educação.

Saudações,

Professora Amanda Gurgel

domingo, 5 de junho de 2011

Slacktivism ou um alívio na consciência das elites

O RISCO AVAAZ


Autor: Felipe Bertoni

O ciberativismo, ou ativismo digital, é um fenômeno que alterou as regras do jogo entre os veículos tradicionais e os alternativos de comunicação. Com a possibilidade de difundir reivindicações, a internet se transformou no habitat natural do ativista, que descobriu a força das mídias sociais. A recente utilização do facebook e do twitter na revolta egípcia, culminando com o afastamento do ditador Hosni Mubarak, demonstra a força descomunal do ativismo digital. No Brasil, as possibilidades são enormes. De acordo com dados do Censo de 2010, 81 milhões de brasileiros acessam a internet, e 51 milhões de pessoas se utilizam das diversas mídias sociais (twitter, facebook, orkut) para obter informações. Soma-se a isso as eleições para presidente no ano passado, disputadas tanto nas ruas quanto na web, e podemos imaginar a grande influência que o ciberativismo terá nos rumos da política nacional nos próximos anos.

É nesse contexto que surge a Avaaz, uma ONG fundada pelo ativista Ricken Patel, cuja linha de atuação consiste basicamente na promoção de petições online (e-petitions) para defender uma grande variedade de causas, desde a libertação de presos políticos até a proteção à Amazônia. No Brasil, a Avaaz teve atuação relativamente discreta até o ano passado, quando lançou uma petição para "acabar com a corrupção" no país, defendendo a aprovação do PL da Ficha Limpa. Com mais de 2 milhões de assinaturas, a Avaaz concretizou sua popularidade e ganhou a simpatia dos brasileiros. No entanto, a atuação da entidade como defensora de causas nobres é perigosa. A ONG faz falsas promessas, se apropria da mobilização alheia, vende vitórias que não são dela e afirma ter um poder de lobby que não tem, além de passar informações equivocadas e fazer defesas superficiais de suas causas. Ademais, a Avaaz é não apenas uma entidade inútil no que se destaca (petições online) como é potencialmente danosa para o ativismo digital.

A panaceia Avaaz

A entidade afirma que pode alterar políticas públicas através da pressão popular compactada em uma petição online com uma mensagem de um ou dois parágrafos, e milhares ou milhões de assinaturas. Esse talvez seja o maior problema da entidade. Sem negar que a ONG trabalha em outras mídias, é importante reconhecer que essa é a sua principal linha de atuação. E não é uma linha eficaz.

Em primeiro lugar, o número de assinaturas de uma petição online pode ser facilmente falsificado (ao contrário de uma petição tradicional, em que você de fato assina seu nome e é ao menos trabalhoso falsificar as assinaturas). Por exemplo, eu usei o mesmo computador, o mesmo ip, o mesmo cep e o mesmo número de telefone, mudando apenas uma letra no meu nome (Felipe Bertoni e Felipe Bertonio) e assinei duas vezes uma petição online para que a Dilma pare Belo Monte na Avaaz (dei printscreen, caso alguém exija provas, mas sugiro que façam vocês mesmos). Então nenhuma dessas petições é realmente séria, porque os números de assinaturas são fictícios e provavelmente os militantes inventam centenas ou até milhares de nomes diferentes para inflar uma iniciativa que defendem. Como a Avaaz pretende que os governos levem suas petições a sério se ela não possui qualquer controle sobre quem assina?

Em segundo lugar, não existe nenhuma garantia que as petições serão corretamente enderaçadas, ou mesmo que serão endereçadas a qualquer pessoa. Nesse sentido, vale a pena ler a denúncia da ativista Margaret Setterholm sobre como a Avaaz tratou a petição para libertar Iman al-Obeidi.

Em último lugar, mesmo que endereçadas corretamente e com todas as assinaturas legítimas, não existe nada sugerindo que uma petição online realmente cause alguma pressão sobre quaisquer autoridades. Ah, o Gordon Brown e o Al Gore disseram que a Avaaz é o futuro do mundo, então talvez ela exerça algum tipo de pressão, certo? Errado. O Al Gore, o Gordon Brown e outros políticos provavelmente são os maiores interessados na ascensão do slacktivism (o ativismo de mentirinha, que não tem qualquer impacto real na sociedade mas faz com que o pretenso ativista se sinta bem) sobre o ativismo real. Quando se propaga a ideia de que assinar uma petição online é "fazer a sua parte" ou, pelo menos, que é "melhor do que nada", os espaços para o ativismo real diminuem. Por que? Porque uma boa parte das pessoas que praticam ativismo o fazem como uma forma de alívio da consciência. Existe um grande e justificado sentimento de culpa por parte das elites, especialmente em um país desigual com o Brasil, e quando uma ONG como a Avaaz afirma que você pode mudar o mundo com um clique, esse alívio da consciência é entregue gratuitamente.

O ativismo não precisa ser difícil, e o ciberativismo demonstrou com o passar dos anos que não é necessário sujar as mãos para trabalhar por uma causa. Petições online, no entanto, tem mais claramente o condão de criar alguma forma de conscientização do que ser um veículo que exerce poder de lobby. No entanto, no caso específico da Avaaz, até a conscientização é praticamente nula, porque a entidade se preocupa muito mais em criar slogans chamativos e frases de efeito do que em transmitir conhecimento. Ainda mais grave é o fato de que a Avaaz não cria nenhuma petição com o objetivo de conscientizar, admitindo que suas campanhas passam por um filtro de popularidade antes de serem lançadas, como demonstrarei a seguir.

A Avaaz e as prioridades da pequena burguesia

Na aba "quem somos", a Avaaz afirma que:

"(...)define prioridades gerais através de pesquisas entre todos os seus membros (...). As ideias para campanhas são submetidas a pesquisas e testes semanalmente com amostras aleatórias distribuídas a 10.000 membros, e apenas as iniciativas que recebem uma forte reação positiva são implementadas em grande escala. As campanhas que acabam chegando a todos os membros são depois reforçadas, muitas vezes, por centenas de milhares de membros da Avaaz participantes no período de alguns dias ou mesmo horas." (grifamos)

Em outras palavras, o valor de uma iniciativa não está na sua importância ou urgência, mas na sua popularidade. A Avaaz não está interessada em defender uma causa pelo seu valor intrínseco. Desde que receba apoio dos seus "membros" (e vale ressaltar que por "membros" a Avaaz se refere a pessoas que simplesmente fizeram cadastro no site da entidade) e suas petições ganhem uma porção de cliques, a entidade está disposta a defender qualquer coisa. Talvez isso explique o recente lançamento dos best-sellers Nada de Formula 1 no brutal Bahrein, Proteja o Brasil do Bolsonaro e 24 horas para acabar com a Guerra às Drogas!. Movida pelo que há de mais quente e popular nas causas sociais do momento, a Avaaz é pautada pelos interesses genéricos de uma classe média que não compreende os mais diversos problemas do Brasil e do mundo só por ter preenchido um cadastro. Ao escolher suas iniciativas através desse filtro, a Avaaz se torna uma ONG que só defende causas nobres de maneira acidental, e pode muito bem ter deixado de lançar iniciativas mais importantes pelo desinteresse de alguns "membros".

Aí reside a onipresença incompetente da Avaaz: Ao apresentar tantas petições sobre tantos temas diferentes, alguns extremamente profundos e difíceis de compreender, a Avaaz abusa de sua confiança junto às pessoas cadastradas, obrigando-as a tomar posições que eventualmente não entendem. Isso porque o teor dos e-mails que os membros recebem é escandaloso e emergencial, além de ser pouco informativo, e tudo o que a entidade pede é um clique. Retomando dois dos best-sellers que citei acima: Proteger o Brasil do Bolsonaro, na petição da Avaaz, significa tomar uma posição favorável ao PL 122. Para que qualquer um assine essa petição conscientemente, é preciso ter lido e compreendido o Projeto de Lei, além de entender a Lei 7716/89 (talvez acessando o blog do Gunter Zibell) não somente ser contra a homofobia. O mesmo acontece com a assinatura consciente pedindo o fim da Guerra contra as Drogas. Não basta ser contra o tráfico de entorpecentes ou a favor da legalização da maconha, é preciso ter consciência do que significa a Guerra contra as Drogas, quais as consequências da política proibicionista e repressora da ONU e quais as consequências do fim dessa política. Estas não são questões triviais. É quase impossível para qualquer um tomar uma posição consciente sobre todas ou até mesmo sobre a maioria das petições que a Avaaz promove, o que é somente um agravante ao fato de a ONG não consultar especialistas para dar início às suas iniciativas, mas os mesmos membros leigos que assinam suas petições.

A Avaaz cria um número superficial de assinaturas, não uma militância real com poder de lobby. A atividade da entidade poderia ter um cunho informativo, se ela se prestasse ao trabalho de compartilhar conhecimento com os membros cadastrados, ou mesmo com as pessoas que eventualmente assinam uma de suas petições. Mas de acordo com a própria entidade...

A Avaaz não tem interesse em transmitir informação

Com a palavra, a ONG:

"A equipe da Avaaz escreve alertas de e-mail à comunidade de membros da mesma forma que um assessor de presidente ou de primeiro-ministro prepara breves relatórios informativos para o chefe: temos pouco tempo para transmitir as informações vitais de que o leitor precisa para decidir se deseja envolver-se na campanha, e essa decisão é de crucial importância para a campanha." (grifamos)

A Avaaz possui duas formas de publicizar suas campanhas: Através dos e-mails enviados para os membros cadastrados (mais de 9 milhões de pessoas) e através dos blogs e mídias sociais que repercutem suas petições. O segundo caso é um pouco mais grave, porque a entidade se compromete ainda menos em transmitir informações no seu próprio site. Tome-se como exemplo a campanha da Avaaz para pressionar a ONU a passar uma resolução instituindo uma zona de exclusão aérea na Líbia. Através da campanha promovida pelo site, é impossível saber até mesmo o que vem a ser uma zona de exclusão aéra. O fato de existirem pessoas que continuam assinando a petição demonstra apenas que muitos "militantes" assinam sem ter a menor ideia do que seja a guerra, uma vez que desde março a Líbia é zona proibida de voo.

No caso dos e-mails enviados, os mesmos textos encontrados no site aparecem junto com links para "mais informações". No best-seller Nada de Formula 1 no brutal Bahrein, a maioria dos links para que o membro se informe diz respeito a protestos que ocorreram no Bahrein e confrontos entre militantes e a polícia. Nada que possa levar alguém a apoiar um boicote da Fórmula 1, apenas informações soltas, mais ou menos relacionadas com o tema em questão. É o tipo de petição que poderia levar a Avaaz a fazer, no futuro, a iniciativa Nada de Fórmula 1 no brutal Brasil, mostrando notícias de conflitos entre a polícia e manifestantes em São Paulo, dados de pessoas assassinadas no país ou aquela foto do índio chorando ao saber que a usina de Belo Monte será construída. Se continuar preferindo a alienação e o escândalo, a entidade corre o risco de não se diferenciar em nada da velha mídia, fazendo qualquer negócio para ganhar cliques.

Avaaz e suas "vitórias"

Na aba "destaques", podemos encontrar algumas das "vitórias" da Avaaz. Logo na página inicial, descobrimos que a entidade é "Protetora do planeta", por ter tomado parte na "pressão pública" que "reverteu a lei que daria boa parte da floresta Amazônica para a exploração de agronegócios (Junho, 2009)", tudo isso com ligações (?) e "mensagens online". A que se refere a Avaaz? À MP da grilagem, que foi sancionada pelo ex-presidente Lula e virou lei em junho daquele ano. A Avaaz afirma ser uma vitória dela (categoricamente, conforme e-mail enviado para os membros aquele ano) os dois vetos de uma lei que legaliza terras griladas na Amazônia, desconsiderando toda a influência dos movimentos sociais na questão, inclusive da WWF e do Greenpeace. A Avaaz vibra e faz propaganda de sua vitória sozinha, já que a transformação da MP 458 em lei, mesmo parcialmente vetada (ou quase integralmente sancionada, dependendo da posição do observador) desagradou as ONGs e os movimentos sociais envolvidos na questão.

Independetemente de ser ou não favorável à MP 458 ou de ter efetivamente conseguido pressionar o presidente da república (com ligações e spam!) a vetar parte dela, a Avaaz não pode afirmar que "reverteu a lei" sem explicar exatamente o que foi revertido. Quando faz essas afirmações sem mostrar o que aconteceu, a Avaaz desinforma seus membros (e possíveis doadores) e passa a impressão de ter impedido o sancionamento da lei, quando o contrário aconteceu. Por pura desonestidade ou incompetência, a entidade dá destaque a uma vitória que não pode se dizer dona, não pode dizer que "reverteu" e provavelmente não deveria estar aplaudindo.

Nesse quesito, aliás, a Avaaz é ímpar. Com o egocentrismo de um ditador, a entidade afirma reiteradamente ter "conseguido" vencer as causas que apoia através da pressão popular (?) de seus membros (???). Qualquer menção a organização por políticos ou pela velha mídia é tida como uma grande vitória da ONG, como aqui, em que todos os indícios de popularidade da Avaaz aparecem destacados em rosa.

O risco Avaaz

A Avaaz representa um risco para o ativismo digital. A entidade se comporta de maneira arrogante, até adolescente, pois parece se preocupar muito mais com a popularidade de seu ativismo do que com as causas que afirma defender. Suas petições, que provavelmente causam um impacto pequeno ou nulo, são vistas pela ONG como uma força democrática capaz de dobrar governos, acabar com guerras e pressionar a ONU. A entidade pede doações em todos os e-mails que envia (não vou ser desonesto aqui: Em todos os e-mails que recebi) enquanto vende essa imagem, possivelmente retirando valiosos euros de entidades que trabalham mais do que fazem marketing de suas campanhas. Quando a Avaaz apoia um lado vencedor, ela entra em um ritual bizarro de auto-congratulação e esquece de todas as ONGs, movimentos sociais e outras entidades da sociedade civil que ajudaram na causa.

O ciberativismo corre o risco de ser engolido pela onda de ignorância, spam e desonestidade intelectual promovida por entidades como a Avaaz. Precisamos ficar atentos.

sábado, 30 de abril de 2011

Urubólogos do PIG só enrolam o leitor e não conseguem explicar a crise!

O Grande Debate
30-04-11

Reproduzo aqui o texto de Chico Barreira publicado no seu blog

Para entender a crise ou
quando os professores não sabem o que dizem

Os países do antigamente chamado Primeiro Mundo quebram em setembro de 2008 (a Grande Crise Americana) e não conseguiram se rereguer até agora. Na verdade, jamais voltarão ao fausto de seu apogeo. O curioso é que, endividados até o cavanhaque, eles não fazem a lição de casa. Ou seja, não fazem o que até recentemente mandavam os países do então chamado Terceiro Mundo fazerem.

Os números da crise veiculados na semana passada pelas agências intenacionais de notícias ilustram bem a situação e foram resumidos no artigo de Fernando Dantas de O Estado de S. Paulo. Vejam o principal techo deste artigo:

“Os mercados globais entraram em estado de choque com a notícia de que a famosa agência de rating (classificação de risco de crédito) Standard & Poor’s havia colocado a nota dos Estados Unidos em “perspectiva negativa”. A decisão da S&P não significa que os EUA já foram rebaixados, mas sim que existe uma chance em três de que isto venha a ocorrer em dois anos. Essa simples possibilidade, porém, já é suficiente para mexer com um dos mais importantes pilares do sistema financeiro global.

Desde que a agência iniciou a classificação do crédito do governo americano, há cerca de 70 anos, o rating sempre foi AAA, o máximo possível. Considerada como risco zero, ou pelo menos risco mínimo, a dívida americana sempre foi vista como o piso a A dívida de um punhado de países ricos aumentou em US$ 16 trilhões (mais que o PIB americano) desde 2007, e atinge hoje US$ 42 trilhões, ou 61% do PIB global, representando uma das principais ameaças à recuperação da economia mundial.

Esse endividamento pesa hoje sobre Estados Unidos, países da zona do euro, Reino Unido e Japão, justamente a parte mais rica do mundo, que por séculos foi o motor e a vanguarda da expansão da prosperidade humana. Em 2007, antes da crise econômica global, a dívida dos países ricos era de US$ 26 trilhões, e correspondia a 47% do PIB global.

Nesta semana, os mercados partir do qual o risco de todos os outros créditos é medido. Assim, a chance de que a qualidade de crédito dos EUA venha a deixar de ser o parâmetro para avaliar os demais riscos embaralha as perspectivas da economia global num momento que já é particularmente confuso.

O problema americano é que, com a crise global de 2008 e 2009 – e os grandes déficits públicos que foram usados como alavanca para relançar a economia -, a dívida pública explodiu.

Segundo os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida bruta do governo americano saltou de 62% do PIB em 2007 para projetados 99,5% em 2011 (e deve chegar a 112% em 2016). Hoje, a dívida está entre US$ 14 trilhões e US$ 15 trilhões.

Este ano, os EUA devem completar seu terceiro ano consecutivo com déficit público acima de 10% do PIB, o que colocou a dívida pública em trajetória explosiva. As autoridades econômicas americanas foram extremamente permissivas em termos de expansão fiscal e monetária depois da crise global, pelo medo de que qualquer tentativa de austeridade (que contém a demanda) jogasse o país num atoleiro deflacionário como o que o Japão experimenta desde o estouro da sua bolha no fim da década de 80″.

Os “pofessores” intrujões

Celso Ming, Mírian Leitão e Carlos Alberto Sardenberg (existem outros mas fiquemos apenas com estes) diarimente enrolam o público leitor com seu jeito professoral e empafioso, fazendo crer que estão explicando a crise.

Mas não explicam nada. Pela simples razão de que apenas tocam na superfície da crise. E fazem isso, porque não entendem absolutamente nada de economia, pela razão simples de que jamais estudaram as lições essenciais legadas pelos clássicos como Smith, Ricardo, Say e Marx que explicam a gênese da acumulação capitalista e suas crises cíclicas.

Há dias, publicamos, em outra coluna deste blog, um pequeno roteiro para quem, com honestidade e paciência, queira entender os mecanismos básicos da acumulação do Capital e, pois, de suas crises. Vamos repeti-lo aí baixo:

O Crepúsculo do Capital

Todos comentam a atual crise econômica mundial, mas poucos percebem que ela é, na verdade, uma crise do próprio modo de produção capitalista. Trata-se de um fenômeno sistêmico que aponta para crescente incapacidade de o Capital acumular o seu próprio excedente. É a fase crepuscular ou terminal. Entender isso não é muito complicado desde que se saiba, preliminarmente:

1-O Capital é, em si, um excedente. Excedente de trabalho (próprio ou alheio) que não é consumido e sim acumulado.

2-O Capital só obtém lucro efetivo na sua parte variável, dinheiro vivo reservado para pagamento de salários. É essa a parte do Capital que retorna ao bolso no proprietário, inflado pelas horas excedentes (não confundir com horas extras) de trabalho não pagas, a famosa mais-valia.

3-A parte fixa ou constante do Capital, máquinas e equipamentos (e insumos também) não fornece, a rigor, nenhum lucro ao capitalista. Isto, pela boa razão de que ela transfere o seu próprio valor para o valor da mercadoria que ajuda a produzir. No caso dos insumos (energia e matérias-primas) esta transferência é instantânea. No caso de máquinas a transferência pode levar anos. Mas, inexoravelmente, insumos, máquinas ou equipamentos se exaurem, cedo ou tarde, na produção das mercadorias. Entretanto, é aqui, na sua parte constante, que o Capital acumula.

4-A última frase do item anterior não é gratuita: o Capital só materializa e fixa os lucros obtidos com a rodada anterior de exploração do trabalho, quando investe em novas máquinas e em mais terrenos e edificações. É assim e só assim que ele realiza sua acumulação ou, mais propriamente, sua reprodução ampliada. Pois é assim que ele amplia sua capacidade de explorar mais trabalho a partir da mesma base inicial.

Agora reparem (e isto é estampado diariamente pela mídia) que o Capital está em permanente revolução interna, sempre substituindo sua parte variável (salários e mão de obra) pela parte constante (máquinas e equipamentos). É a automação vertiginosa que acomete o Sistema nesta sua fase terminal. Quando as máquinas e equipamentos perdem densidade de valor ou simplesmente tornam-se descartáveis (substituídas em prazos cada vez mais curtos), o Capital vai, concomitantemente, perdendo sua capacidade de acumulação.

Então, fica nítida a noção de que, principalmente nos países tecnologicamente mais adiantados, o Capital (entendido aqui como o conjunto de capitais – o Sistema), vai despregando-se daquela parte que dá lucro, bem como daquela onde ocorre a acumulação efetiva.

Quando isto ocorre, o Capital toma três rumos: a- deixa de ser produtivo e transforma-se em capital de serviços que dá lucro, mas não realiza a acumulação clássica que só ocorre (como foi exposto acima) no capital efetivamente produtivo, industrial ou agrícola; b- ingressa no cassino especulativo e passa a obter a maior parte de seus lucros não mais no chão da fábrica, mas no departamento financeiro e c- migra para a periferia do sistema, os países em desenvolvimento, onde ainda é possível obter altas taxas de mais-valia, em função da mão de obra barata. Neste último caso, China, Índia e Brasil são três excelentes exemplos.

Enfim, creio que aí está um pequeno, porém eficiente, roteiro para acompanhar a atual crise com melhor capacidade de percepção dos fenômenos que são subjacentes a ela e vão muito além das baboseiras repetidas à exaustão pela mídia pobre e podre.

Reparem, ainda, que o que foi dito aí em cima, não é simples literatura marxista dogmática e sim leitura correta dos antigos clássicos da economia como Adam Smith, David Ricardo e Jean-Baptiste Say, em cujos textos Marx colheu os fundamentos para desenvolver sua teorias sobre a acumulação capitalista. Um processo que chega agora à sua fase crepuscular.

O Neofeudalismo

A esta fase crepuscular eu dou o nome de Neofeudalismo, a etapa superior do Imperialismo.

O Neofeudalismo tem como principal característica a monopolização e/ou oligopolização extremas e a nível mundial. Some-se a isso, a terceirização da produção. As grandes corporações cedem a terceiros avassalados, sua marca, suas invenções e modos de produção e venda. Assim, passam (eis aí o aroma feudal) a auferir renda com algo que é de sua propriedade, sem se imiscuirem na produção propriamente dita.

Com isso, como já é visível a olho nu, há uma total revolução das relações do trabalho, somada ao crescente descarte de mão de obra, por conta da vertiginosa automação. Nasce aí o chamado desemprego estrutural.

E desemprego estrutural é um eufemismo, um nome técnico que se dá a algo brutal: a exclusão definitiva de populações inteiras ao redor do Mundo. Populações que se tornam excedentes e descartáveis enquanto elementos do processo produtivo.

O Impasse Ecológico

E ainda nem falamos no Impasse Ecológico que não só entrava, como inviabiliza o atual modo de produção e consumo, pelas seguintes três razões:

1- A acumulação capitalista só ocorre, como vimos acima, pela metabolização do homem (através de seu trabalho) com a Natureza. Mais precisamente, através de um excedente de trabalho, a mais valia. Este excedente é aquela parte sem a qual o trabalhador poderia sobreviver, mas sem a qual ele não consegue poupar e/ou acumular. E é certo que a este excedente de esforço humano corresponderá, obrigatoriamente, um excedente a ser fornecido pela Natureza, os recursos naturais.

2- Por esta razão o Sistema se utiliza daquilo que chamamos de consumo e produção redundantes, através da descartabilidade e da obsolescência prematura ou forçada.

Ou seja, mercadorias de todos os tipos, inclusive mecadorias produzidas para produzir outras mecadorias (insumos, máquinas e equipamentos) são elaboradas com todo o esmero pra serem descartados ou substituídas no mais curto espaço de tempo. O objetivo dessa pressa é o de dar lugar a outras mecadorias que já estão entrando na linha de produção.

É este carrossel diabólico que com seus giros intemináveis vai produzindo mercadorias apenas para produzir mais mercadorias, sem nenhuma conexão com as reais necessidades do homem em particular ou na Humanidade como um todo. E é isto que faz com que o Capital, enquanto sistema global, perca sua lógica ou sua racionalidade elementar, transformando-se em instrumento de destrição planetária.

domingo, 24 de abril de 2011

O engodo das sacolinhas feitas de milho

MILHO PARA GALINHA
Carlos Motta
extraído do blog Crônicas do Motta

A Associação Paulista dos Supermercados (Apas) e o governo do Estado chegaram a um acordo para acabar com as sacolas de plástico. Até o fim do ano, portanto, os filiados da Apas não empacotarão mais as compras dos fregueses nas sacolinhas. Em vez delas, venderão, por R$ 0,19 saquinhos feitos de um material biodegradável, à base de milho. O preço, dizem, é o de custo. A mudança, atestam seus idealizadores, é necessária em nome das boas práticas ecológicas: o plástico leva uma centena de anos para se decompor.
Tudo muito lindo, ótimo, maravilhoso... para os donos dos supermercados!
É que, com a iniciativa, eles vão aumentar os seus já gordos lucros, já que as sacolinhas de plástico eram fornecidas pelos supermercados e o custo delas, óbvio, estava embutido nos preços dos produtos vendidos. Sem essa despesa, eles passam a ganhar mais, pois vão vender as tais sacolas biodegradáveis.
Alguém se lembra do que aconteceu com o fim da CPMF, o imposto do cheque?
Os empresários diziam, no seu poderosíssimo lobby para acabar com o tributo, que ele encarecia a cadeia produtiva. Com o fim do imposto, o governo deixou de arrecadar cerca de R$ 20 bilhões, a Receita Federal e a Polícia Federal perderam um precioso instrumento para detectar sonegação fiscal, fraudes e outros crimes financeiros, e os empresários simplesmente embolsaram o que deixaram de pagar. Não diminuíram o preço de nenhum mísero produto!
Nesse caso das sacolinhas de plástico a lógica é a mesma. Sob o pretexto de uma boa ação, o que os donos dos supermercados fazem é, nada mais, nada menos, arranjar um meio de aumentar seus lucros, tirando um pouco mais do consumidor, que, para ir às compras numa cidade como São Paulo já tem de gastar muito com transporte, combustível, estacionamento, só para citar os itens principais.
Se estão tão preocupados com a preservação do ambiente, os supermercadistas deveriam voltar a usar os velhos e bons sacos de papel. Estariam assim agradando os fregueses e ajudando todo o setor de papel e papelão, em vez de dar uma grana preta a algum "amigo" que detém a tecnologia da fabricação dessa tal sacolinha de milho.
Isso, porém, seria pedir demais. O capitalismo, todos sabem, age sempre em favor de uma minoria.

sábado, 23 de abril de 2011

Como funciona o mercado financeiro

Apesar de um pouco antigo o vídeo abaixo ajuda a entender a "ingenuidade" dos financistas:

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A falácia sobre a necessidade de aumento dos juros. Mais didático impossível.

Segundo Delfim Neto, nosso jornalismo econômico não é uma coisa nem outra, leia mais.

O DESASTRE DA ALTA DA SELIC
Luis Nassif
publicado AQUI em 21-04-11

Os descaminhos da política monetária brasileira são fáceis de demonstrar.
A taxa Selic impacta dois clientes distintos. O primeiro, os demandantes de crédito em reais; o segundo, os investidores e captadores de ativos em dólares.
No mundo dos reais, o custo do crédito oscila entre 40% a 200% ao ano; no mundo dos dólares, a 5%, 8% ao ano. Nas aplicações, o mundo do real remunera a 8 a 15% ao ano; o dos dólares a 2%.
Essa é a causa da disfunção da política monetária brasileira, quando as taxas chegaram a patamares malucos de dois dígitos. Qualquer mexida na Selic tem efeito ínfimo sobre o crédito e a demanda interna; e efeitos avassaladores sobre o fluxo de dólares.
Suponha um bem de R$ 1.000,00, financiado por 24 meses a taxas de 4% ao mês. O valor da prestação será de R$ 65,59 mensais. Com mais 0,25% de custo de captação, esse valor subirá para R$ 65,73 mensais. Desestimulará algum financiamento? É evidente que não.
Na outra ponta, 0,25% - mesmo em cima de uma maluquice de 12% ao ano – é um estímulo a mais para a entrada de dólares. Não apenas isso. Mesmo sendo menos do que o mercado fingiu que seria, é sinal de que o Banco Central não pretende deter a apreciação do real. É gasolina na fogueira da especulação com o real.
Esta semana estive com um conhecido, grande investidor.
Ele recebeu uma oferta do Credit Suisse para uma aplicação em dólares. Funciona assim:
Se o dólar continuar caindo ele ganha até 23% ao ano. O que passar disso é ganho do Credit Suisse.
Se o dólar se valorizar, o banco garante ao menos 6% de remuneração nominal para sua aplicação.
Na conta dos vendedores do banco, a aposta é que o dólar chegue a R$ 1,32 este ano.
Sabe o que significa?
O sujeito aplica US$ 1 milhão. Pelo dólar a R$ 1,56, converte em R$ 1.560.000,00
Aplica na Selic a 12,5%. Em um ano, o investimento sobe para R$ 1.755.000,00.
Daqui um ano, se o dólar estiver de fato em R$ 1,32, ele converterá o saldo em US$ 1.329.545. O ganho será de 33% em um ano.
Não se trata de mero exercício matemático. Trata-se do raciocínio que está embalando todo o mercado a manter a aposta na apreciação do real.
O custo que o BC infringiu ao país com essa alta de 0,25 na Selic não é apenas o do impacto direto no custo da dívida. É a manutenção da fogueira acesa das apostas contra o câmbio, é a aceleração do desmonte das indústrias, o aumento do custo de ampliação das reservas cambiais.

domingo, 6 de março de 2011

Bandalargar

Bandalargar from Pedro Ekman on Vimeo.

BANDA LARGA É UM DIREITO NOSSO!

No dia 14 de março, às 16 horas na sede do Conselho Regional de Psicologia de São Paulo, as entidades envolvidas em torno da campanha Banda Larga é um Direito Seu! Uma ação pela Internet barata, de qualidade e para todos, realizarão uma reunião para preparar os próximos passos do movimento.

São muitos os desafios e debates que envolvem o acesso à banda larga e sua plena utilização no Brasil. O Plano Nacional de Banda Larga nasceu com o objetivo de reverter a atual situação de uma Internet cara, lenta e para poucos, mas é insuficiente para isso, e sofre com a pressão das empresas de telecomunicações, que ameaçam seus objetivos.

É indispensável que a sociedade se mobilize congregando movimentos sociais, ativistas pela internet livre, pontos de cultura, organizações do movimento de cultura e de comunicação e todos e todas interessados na luta pelo reconhecimento da banda larga como um direito, devendo ser universalizada e pautada no interesse público. Tal universalização é condição essencial à efetivação de direitos humanos fundamentais e ao aprofundamento da democracia brasileira.

Com este objetivo a campanha começou a se articular em 2010, e reúne reivindicações essenciais a este processo. As ações do PNBL estão caminhando sem esta contribuição organizada, por vezes apontando na direção contrária do que defendem os movimento sociais e de luta pela democratização da comunicação. A proposta da campanha é montar uma vigília permanente, congregando todas as contribuições, na defesa de uma Internet barata, de qualidade e para todos!

Nesta reunião, marcada para 14 de março, as entidades irão realizar o planejamento das próximas etapas da campanha, como uma ação nacional de lançamento, com atividades simultâneas em várias capitais.

A Campanha, bem como seu manifesto, estão aberto às adesões das entidades que queiram se juntar a esta iniciativa em defesa da inclusão digital

1) Contribua com o Manifesto, ainda em versão preliminar e disponível aqui. Se preferir, encaminhe seus comentários para o e-mail campanhabandalarga@gmail.com

2) Participe da próxima reunião de organização da campanha: dia 14/03 (segunda-feira), às 16hs, no Conselho Regional de Psicologia de São Paulo (Rua Arruda Alvim, 89 – próximo a Cardeal Arcoverde e Dr. Arnaldo)

3) Confirme a adesão da sua entidade (ou individual) pelo e-mail campanhabandalarga@gmail.com. A única condição é concordar com o manifesto.


Matéria extraída de flimultimídia

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Democratizar os meios de comunicação

Vídeos extraídos da matéria "Levante sua voz" publicada no blog JornalismoB:

Parte 1:


Parte 2:

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

domingo, 2 de janeiro de 2011